sábado, 30 de maio de 2009

Noemi

Calada e inquieta, Noemi lembra-se de não estar depilada. Coisa que pouco homem suporta é mulher peluda. Sem saber o que fazer, decide fingir desmaiar. Sabendo que um homem de negócios não gostaria de ser encontrado em um hotel com uma prostituta, ainda mais desmaiada, logo sairia do quarto e não alertaria ninguém sobre o ocorrido. Então após tirar sua blusa, cai.

Noemi enganara-se sobre o homem, era um pobre escritor no dia do seu aniversário. Não havia notado as paredes descamando tinta velha. Apenas se concentrara no dia em que quase foi morta por estar com pêlos nas axilas. Imaginou então que a fúria seria maior se a região fosse outra, impossível de esconder enquanto exerce seu trabalho.

Na madrugada anterior, pensara em se matar como em todas as outras noites desde que começou a se prostituir. Era jovem demais e há alguns anos havia se formado em música numa universidade pública qualquer que a levou sair da cidade pequena para que fosse procurar oportunidades na capital. Passou alguns dias com o pouco dinheiro que seus pais puderam lher dar, procurando por emprego. Desiludida, com seu diploma de baixo do braço, morta de saudades de seus queridos, sentara-se no fim da tarde num bar que vendia fiado. Ali Noemi passou muitos finais de dia indignada pela falta de valor que davam praquele papel que carregava pra todo lado. Não havia escola, nem bares que a quisessem. Acabou pedindo emprego pro dono do bar, para poder além de pagar suas contas, beber mais.


(continua)

Cap. II

Próprio do espírito sorumbático é andar sempre calado: tagarelar é o encanto e a alma da vida. (LA CHAUSSÉE)

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Disarm

Vê se te desarmas enquanto estiveres comigo
És tu quem dizes que sou o amor
Digo o mesmo e ainda repito
Que portanto contigo estarei desvestida
Do que não preciso

"Quero que desprendas
de qualquer temor que sintas
Tens o teu escudo
O teu tear
Tens na mão, querida
A semente
De uma flor que inspira um beijo ardente
Um convite para amar..."
(Maria Rita - Menina da Lua)

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Lindíssima


No começo parecia rata e pretedia chamá-la como o nome da música que Caetano diz "você foi rata demais" mas cada dia que passava ela ia ficando mais linda. Virando uma bola, quase foi chamada de Joa Soares ou Mortadela. Ela perdeu todos os irmãozinhos, porque a mãe saiu de casa e foi ter filho na rua. Eles morreram todos afogados pela chuva. Só ficou a minha Bongôzinha. Ela mamou todo leite que aquelas tetas rezervavam pra cinco e no começo a gente suspeitou que ela não tinha cú, porque ela chegava cada dia mais perto de explodir e nunca encontramos uma merdinha dela. Depois de um tempo começaram a aparecer e ela não deixou de engordar. Portanto, ela sempre teve cú abertinho, e depois que as perninhas começaram a aguentar aquele peso todo ela pulava muito feliz quando a gente chegava. Uma vez a gente chegou e não achavamos ela e a encontramos deitada na rede lá fora, se balançando. Inacreditável. Agora mais uma chuva levou embora mais um filhote da Sofia. Tomara que o céu de cachorros tenha redes e muita comida.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Homenagem ao 403


Que saudade de subir dois andares, talvez errar o lado do corredor, voltar e tocar duas vezes seguidas aquela campainha como senha. Assim de pijama mesmo, levar um CD bom pra gente sair fumar na varanda, morrendo de frio até com casaco do Hitler. Fingir que não percebia alguma coisa e ficar horas falando sobre as minhas paixonites. Cantar milhões de vezes a mesma música que cantamos o ano inteiro e as vezes variar pra um Chega de Saudade. Ficar olhando vocês estudarem enquanto eu falava disparadamente e atrapalhava vocês e a boa educação que receberam não deixava que me mandassem pra puta que pariu, como eu faria se fosse o contrário. Saudades de ver A Favorita e ficar nervosa junto com vocês e de novo sair fumar na sacada. Fazer festinhas de surpresa, ou colocar o máximo de cerveja que podiamos na bolsa pra passar escondido na portaria. Aquilo era pesado e nunca era o tanto certo. Entrar sambando patéticamente durante a abertura da Grande Família, bêbada. Pensar sobre o que eu vou ser nessa vida, enquanto mais novas que eu já tem suas certezas. Ouvir aquela música no violão e a encheção de saco pelo interfone por causa do nosso barulho. Nossos dias eram quase todos iguais mas naquele lugar existiu isso que fez valer a pena. Saudades do último dia que nós três choramos igual retardadas. Tomara que a gente passe no vestibular e fique perto logo. A promessa espero que ainda esteja colada na geladeira. Ah! Esqueci de citar algo muito importante, que era comer o melhor arroz com frango da face da terra. Saudades, porra.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

O Pi Eterno


Não é minha imaginação, tenho provas de que é fato, desde pequena troquei o dia pela noite. Nenhuma criança saberia descrever o infinito barulhinho da tv após acabar a programação naquele listrado colorido em vertical, se realmente não o tivesse presenciado. O frio muitas vezes como impasse entre a cama e a TV (que ainda não havia controle remoto) fez com aquele piiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii eterno um medo inexplicavelmente inesquecível para mim, porque ele me impossibilitava levantar daquela cama quentinha para abaixar o volume. Aí também nasceu a desgraça de não conseguir dormir sem luz alguma. Essas noites podem ser contadas como mais marcantes do que as que vivo hoje, infelizmente. Por mais que as coisas ao redor sejam sempre mais ativas e diferenciadas, toda noite parece a mesma. Mas muitas vezes essas mesmas coisas ativas e diferenciadas estão vestidas de listrado, assim como a televisão, só que em horizontal. Mais vezes ainda, essa coisa sou eu e isso posso ver pelas fotos que era uma mania desde pequenina. Deve ser algo no inconsciente. Trauma da porcaria do pi eterno.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Bacharelado ou Licenciatura?

Dizem que o Google sabe mais que Deus mas hoje ele não soube me dar a respota, assim como mais ninguém conseguiu finalmente me tirar a dúvida. Bacharelado e Licenciatura, qual a diferença? Aceitar resposta como licenciatura pode dar aula e bacharelado não, é estranho demais para mim, porque pensar que alguém escolheria não ter a opção de dar aulas, e também não ter qualquer outra coisa em troca, entende o que eu digo? Alguma coisa que um licenciado não poderia ter, porque é que alguém escolheria bacharelado? Não consigo achar justificativas.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

História e Uns Pensamentos

O ser humano é o centro de tudo, é a medida para todas as coisas. Antropocentrismo era o pensamento Renascentista da Idade Moderna, quando o centro do universo deixa de ser a religião. Hoje considera-se que o ser humano aumentou sua proposta deixando de ser apenas centro para ser um ser totalmente individualista e egoísta. Não poderiamos receber outro nome, enquanto mandar se foder o resto todo é o mais comum.

Quando o teocentrismo era utilizado, era obrigatório ajudar quem precisava, se não não estaria de acordo com as crenças da Biblia, logo, iria direto para o inferno. Era o maior dos medos da época, ir direto para o inferno, por isso essa tatica funcionou por tanto tempo. Além do mais se não existisse o medo do próprio inferno, o medo era dos torturadores de quem não acreditava nele.

Toda crença e fé vai se perdendo cada vez mais, e mesmo quem não crê em nada deveria dar graças a alguma coisa por existir ainda algum tipo de relacionamento com forças maiores. A religião é o que segura o mundo, que se ele já está todo fodido, se não houvesse um Deus estaria certamente muito pior.

obs: Este textinho é só um resumo da aula de história que tive hoje. Vi que algumas informações que gostei de receber faltavam na apostila, portanto aqui estão.

sábado, 16 de maio de 2009

Casulo à Dois

O nosso casulo não é ansiar pelas asas
e pelas cores que nelas virão
Mas viver ali apertadinho
Pra alguma hora voar nosso amor mansinho

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Cada volta tua há de apagar

Esperei por ele com todas as portas e janelas abertas. Ele chegou finalmente e me abraçou de surpresa, quando eu sonhava, em baixo do lençol.

"Eu sei que vou te amar
Por toda a minha vida eu vou te amar
Em cada despedida eu vou te amar
Desesperadamente, eu sei que vou te amar
E cada verso meu será
Prá te dizer que eu sei que vou te amar
Por toda minha vida
Eu sei que vou chorar
A cada ausência tua eu vou chorar
Mas cada volta tua há de apagar
O que esta ausência tua me causou
Eu sei que vou sofrer a eterna desventura de viver
A espera de viver ao lado teu
Por toda a minha vida"
(Tom Jobim/Vinícius de Moraes)

Seja muito bem-vindo frio.

domingo, 10 de maio de 2009

Tá nublado até aqui dentro de casa.


Olho para o salão lotado e me sinto cega enquanto procuro sem resultado algum por meus amigos. Meus olhos me enganam e nem sei se o que escrevo está mesmo correto. Será que conjuntivite cega? Filme legendado, só se for colado na tela. Tenho novo livro do Chico e com um esforço imenso leio grudado aos meus olhos um capítulo de 3 páginas de tanta vontade. A luz dói. De manhã cedinho é quase impossível ficar mais de dois segundos com os olhos abertos. Eu pisco, pisco, pisco... Parece que todos os meus cílios estão por dentro dos olhos e não para fora. O médico disse que em 48 horas eu estaria bem, após tomar meus remédios. Não, faz 10 dias que eu estou piorando. Parou de ficar igual um monstro de inchado e vermelho igual um coelho, mas dói mais e enxergo menos. As pessoas também pararam de fazer comentários do tipo: "nossa, olha que chapada aquela mina" ou "você tá chorando? Não chora". Agora perguntam porque eu não a cumprimentei ontem. Amanhã vou visitá-lo novamente e voltar pro salão ver se acho meus amigos. (A foto é a capa do filme baseado no meu livro preferido, Ensaio Sobre a Cegueira. Apesar do meu carinho por ele, prefiro ficar longe de experimentar o que os personagens passam no livro)

sexta-feira, 8 de maio de 2009

O que que é isso, mulher?

Perdi a coragem de cuspir. Que deu vontade, ô se deu mas aquele não era um bom momento para ser eu mesmo. Fingir é mais interessante quando se trata de sociedade e foi o que fiz como bom senhor de gravata e terno indo pro trabalho infernal. Apenas acendi um cigarro que não deu tempo nem de chegar perto do filtro até me deparar no estabelecimento onde passei maior parte da minha vida. Confesso a vontade imensa de botar logo fogo no maço todo e atacá-lo no prédio cinza. Pensei que seria pouco para causar o que gostaria e fui apertando o botão do elevador, arrumando a gravata que a diaba da minha mulher mal sabia dar nó mas para agradá-la com aquele medo que todo homem tem de levar chifre se a mulher não estiver satisfeita, digo à ela todo dia o quão bem ela amarra isso.
Mesmo assim, na hora do almoço, quando chego, vejo ela sempre com aquela cara de cu com cãibra, botando a mesa que parece ter até cuspido na comida. Foi aí que comecei a história dos meus dias desgraçados, todos iguaizinhos. Porque apartir do momento em que imagino comer comida cuspida, tenho vontade de cuspir por cima só pra dar mais gosto. Aquela gororoba que ela faz é idêntica a pizza de frango e catupiry mastigada. Toda vez que pergunto o que é, ela diz "é o de sempre". Tenho vontade de cuspir mas perco a coragem e eu ainda não consegui saber o que é. Sei que além de parecer, tem gosto de pizza de frango e catupiry mastigada e odeio aquilo e odeio mais ainda minha mulher mas mesmo assim, não quero ser corno, por isso não cuspo na comida que ela prepara para mim. Queria lembrar o motivo pelo qual a primeira vez, quando ela me contou o que era aquilo que ela tanto mastiga e cospe agora, não troquei de mulher. Deve ser tão distante que na época em que provavelmente aconteceu, eu ainda era arrumado e gentil o suficiente para arranjar outra com facilidade. Agora não há mais saída.
Sustentar mulher hoje em dia não é comum mas era o que eu desejava quando garoto. Arranjei uma tapada, que mal consegue escrever o próprio nome de casada. Nem saber fazer feijão com arroz ela sabe. Quando ainda subia, era o que tinhamos de bom e o que fez alguma paixão crescer em mim, se é que você me entende. Ô bixinha arretada que era essa diaba na cama. Não existia hora ruim. Tinha a pele lisinha com pêlos que pareciam pluma na minha mão. Hoje mais parece velcro no toque e na aparência uma ruga só. Ah, se ela ao menos tivesse se importado em comprar um livrinho de culinária para me conquistar pela boca. Nessas feiras de livro sempre tem por 1 real mas ela realmente não se importa. Se tivesse pinto também não subiria mais.
Uma vez encontrei uma moça, estudante da faculdade ao lado do local onde passei a maior parte da minha vida. Me apaixonei por ela e ela teve um caso com um homem mais velho casado por uns tempos, eu. Minha mulher nos viu de mãos dadas no Mercado Municipal e saiu de fininho. Quando cheguei em casa, primeiro tentou me matar de porradas inúteis de mulher, depois me apontou na cabeçeira da cama um pacotinho cheia de lágrimas escorridas na face. Eu abri o pacotinho e lá havia uma porcaria de um viagra que a amiga dela tinha "pegado do marido escondido pra ajudar nóis". Me perguntei como foi que elas chegaram nessa conversa e fiquei com raiva porque alguém sabia da falta que eu fazia para ela na cama. Tomei o negócio, depois de pouco tempo ele estava mais forte do que nunca e nessa ela me fez ligar para a estudante e terminar o "relacionamento", chamar ela de tudo quanto é nome e dizer para ela sumir de lá, se não eu não colocaria um dedo na minha própria mulher. Eu precisava daquilo, o fiz sem dó nem piedade. Arranquei a roupa da diaba e fiz tudo o que pude. Ela disse que gozou 8 vezes, mas 8 vezes dá até para causar morte, não dá? Muita emoção. Tipo porco que goza horas... No dia seguinte me perguntei porque quando liguei para minha amante não pedi que me encontrasse e fui tão burro. Nunca recomendei o remédio para nenhum amigo, fiz o contrário. Perdi a menina da minha vida e fiquei sem remédio de novo.
Tudo piorou dali pra frente. Acho que transamos mais umas duas vezes, e foi só porque enquanto eu dormia ela observa o que acontece comigo e ela percebeu alguma coisa por ali e foi me acordando toda nua por cima de mim. Eu sonhava com a minha terceira namorada e continuava de olhos fechados tentando não tocá-la. Depois por um tempo eu mal dormia para que não acontecesse de novo, esperava ela adormecer e acordava antes dela.
Ás vezes levo flores e bombons, porque mulher tem prazer com chocolate assim como com sexo e as flores são para que ela se sinta um pouco querida. Gasto uma graninha por mês com isso para me sentir seguro de que ela não me bote chifres. Continuo indo de segunda a sábado pro lugar onde passei a maior parte da minha vida só para que isso não aconteça. Se não já teria perdido a mulher para qualquer maloqueiro por aí e ficaria sem dinheiro. Não sei o que é pior, não sei nem fazer ovo frito. Por isso continuo assim fingindo que não tenho opção.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Fazendo disso aqui diário (Parte II)

São Paulo é maior do que você imagina...
Não, não, eu quis dizer o Ed Motta.
Tudo bem, Sampa também é grandinha.

Nunca andei tanto. Nunca vi tanta gente junta. Nunca fiquei tão feliz como no show do Novos Baianos. Nunca passei tanto tempo com meu amor. Nunca gastei tanto dinheiro nem carreguei tanta coisa. Nunca tinha ido ao Mercado Municipal de São Paulo nem andado pela 25 de março em feriado nacional. Nunca tinha ido à virada cultural, nunca tinha visto Novos Baianos nem Geraldo Azevedo nem Joelho de Porco. Nunca tinha ido na livrarias Cultura e encontrado o Ed. Nunca tinha andado na Paulista nem nenhuma das ruas em que andei os últimos dias. Nunca tinha ido visitar minha amiga mais querida. Nunca tinha andado de metrô. Nunca tinha chorado de dor nos pés. Nunca tinha sentado num bar na Vila Madalena. Nunca tinha ido na Puc-SP. Nunca tinha ido no Museu da Língua Portuguesa, nem no da Casa Brasileira, nem na Pinakoteca nem no da Arte Moderna. Nunca tinha dito What a Quéllor! Nunca tinha visto duas vezes o Camelo nem Maria Rita. Nunca tinha ido num bar com Jazz que tocasse Weather Report. Nunca tinha pegado o bus de volta pra Puerto Iguazú, direto de São Pablo. Nunca havia eu comprado Leite Derramado do Chico na Saraiva ou em nenhum lugar.

(se alguém aí, lembrar de algum detalhe a mais, me lembra. fizemos tanta coisa que não da pra lembrar se nesse exato momento não escrevermos)

*Esse texto será reconstruído.