quinta-feira, 13 de novembro de 2014

A Árvore

No topo da montanha
o tilintar das borboletas
acordam a madrugada
O estômago em mimese
interpreta o vento

Olhos inundados pela nuvem
Em uníssono os pelos arrepiados
Pés desfigurados pela neblina
O corpo - gangorra...
Quase crio asas

Quase inverto o sol
Quase invado a lua
Quase bico o mar

mas em cada amanhecer
permaneço árvore
a esperar a primavera

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Pesadelo

Nas reticências,
o sonho sonhado corre pelo mundo
Te finca no chão e nada floresce
Transborda tempestade, depois seca.
Você ali, observando os pássaros
que em volta do sol voam ardentes
Depois pousam aqui, ali e acolá
Teu doce suor cai melodicamente
- À toa, a esmo e ao acaso...
A brisa sem-vergonha é teu momento

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Erupção

Os olhos que acordam em mim
Instantaneamente queimam
Viciosos ciclos tectônicos
Que me despertam para ti
Um mundo de ponta cabeça
Contornado em calor
Percorrendo em nós submersos
Febris num ritmo de cores

terça-feira, 26 de agosto de 2014

Dissonância

Poderia contar nos dedos quantas pessoas conheci apreciadores da verdade. A verdade não é única, muito menos sólida, mas ela existe de alguma forma individualmente enigmática. A verdade que conheço é tão minha que quando olho para outra me exponho ao ridículo das certezas, me imponho. E a certeza é a maior mentira contada pela humanidade. A certeza faz guerra, separa amores, a certeza mata pássaros. A certeza está no cerne da impureza, da injustiça, do desassossego.

A verdade está compreendida erroneamente desde que surgiu. Eu quero ver alguém contar uma verdade universal. As verdades são particulares, únicas. A verdade universal colocou o preto na senzala, estancou a força das mulheres, exigiu um pênis e uma vagina para o amor, meteu o dedo no sentimento mais incompreendido de todos. A verdade universal criou a beleza e também criou o feio. A verdade universal é o cabresto que nos move numa única direção. A verdade universal nos resume como seres incomplexos, aparelhados, cegos, nos tranca numa prisão invisível.

O gosto juvenil pelo poder, pelo ser maior que o outro, a dominação, o prazer de olhar por cima diria eu ser tão animalesco se não visse mais pureza nos outros animais do que nos próprios seres humanos. Ao contrário de tanto papo torto, Freud quem sabe tenha sido o melhor investigador da verdade. Falo agora da verdade individual, e portanto única verdade, já que somos tão diferentes uns dos outros. Poderia agora fazer além de uma declaração de amor pela psicanalise, uma publicidade extinta da literatura. Primeiro porque a psicanalise não resumiu em cobra a traição, não fez um guia de símbolos estáticos do inconsciente, depois porque a literatura é o melhor exercício que encontrei para conhecer outras verdades sem envolver-me diretamente na trama. Mas... não é o momento para tanto.

Compreender a verdade como individual ao contrário leva-nos a capacidade de respeito para com o outro, de alguma forma a individualidade nos torna mais próximos do que distantes. Usamos das asas e voamos como bem entendermos, deixando que os outros voem como bem entendem. Afinal "narciso acha feio o que não é espelho", e enquanto narciso não se afoga, a querela se intensifica.

quarta-feira, 9 de julho de 2014

quinta-feira, 29 de maio de 2014

Vida

Por poemas nos travesseiros
E pelos doces escondidos no lençol
E pela pele, pela ânsia e pelos cheiros
Pelas flores descobertas pelo sol

Pela eternidade e este instante
Pela raiz que se espalha, a calhar
Pelo gozo, e por seres meu amante
Por, enfim, viver de tanto amar


quarta-feira, 26 de março de 2014

Pura Poesia

Por puro instinto deixo ensinar-me a viver mais.
Aquela que inevitavelmente vem, ao invés de roubar
criou o brilho dos teus graciosos olhos cor-de-mel.
Segundos não são pra contar, sim para deixar-te levar
em plena intensidade nas manhãs de sol, ser meu carinho
Atrás de toda lua, minguante ou cheia, desnudamos sós
Qualquer hora desarmas o mundo num sorriso
Volto a ser menina só pra gente brincar de ser feliz
No colo nu me inverto de novo mulher, arrisco sem temer
Fartos de certezas a gente quase morre de tanto amar