terça-feira, 28 de setembro de 2010

Quase...

Ainda pior que a convicção do não e a incerteza do talvez é a desilusão de um quase. É o quase que me incomoda, que me entristece, que me mata trazendo tudo que poderia ter sido e não foi. Quem quase ganhou ainda joga, quem quase passou ainda estuda, quem quase morreu está vivo, quem quase amou não amou. Basta pensar nas oportunidades que escaparam pelos dedos, nas chances que se perdem por medo, nas idéias que nunca sairão do papel por essa maldita mania de viver no outono. Pergunto-me, às vezes, o que nos leva a escolher uma vida morna; ou melhor não me pergunto, contesto. A resposta eu sei de cór, está estampada na distância e frieza dos sorrisos, na frouxidão dos abraços, na indiferença dos "Bom dia", quase que sussurrados. Sobra covardia e falta coragem até pra ser feliz. A paixão queima, o amor enlouquece, o desejo trai. Talvez esses fossem bons motivos para decidir entre a alegria e a dor, sentir o nada, mas não são. Se a virtude estivesse mesmo no meio termo, o mar não teria ondas, os dias seriam nublados e o arco-íris em tons de cinza. O nada não ilumina, não inspira, não aflige nem acalma, apenas amplia o vazio que cada um traz dentro de si. Não é que fé mova montanhas, nem que todas as estrelas estejam ao alcance; para as coisas que não podem ser mudadas resta-nos somente paciência porém, preferir a derrota prévia à dúvida da vitória é desperdiçar a oportunidade de merecer. Pros erros há perdão; pros fracassos, chance; pros amores impossíveis, tempo. De nada adianta cercar um coração vazio ou economizar alma. Um romance cujo fim é instantâneo ou indolor não é romance. Não deixe que a saudade sufoque, que a rotina acomode, que o medo impeça de tentar. Desconfie do destino e acredite em você. Gaste mais horas realizando que sonhando, fazendo que planejando, vivendo que esperando porque, embora quem quase morre esteja vivo, quem quase vive já morreu.

Luiz Fernando Veríssimo

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

PCA

Cada minuto que passa pode ser tudo que me resta para viver,
mas eu desperdiço o tempo como se ele fosse infinito.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Samba Danada

Custa sambar
Quero ver você sambar
Custa sambar um pouco

Quando eu saio sempre espero te encontrar
Mas hoje você deu pra não sambar
Peguei dois ônibus só pra te ver dançar

Custa sambar
Quero ver você sorrir
Custa sambar um pouco

Aiai ai Eu quero te arrastar
Pra pista eu vou te levar
Você vai me ensinar
Pra no teu pé eu nunca mais pisar

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Don't Know Why

Faríamos sete anos de unha e carne este ano
Me digo carne porque desisti fácil do vegetarianismo
Porque sou de todo sexo, penso sexo, faço ou não
E te vejo unha porque é você quem esteve cravado em mim
E você machuca e faz sangrar, arranha e gosta
Foste arrancado em tortura pós-guerra da carne dolorosa
Mas as unhas, assim como os cabelos, sempre crescem
Qualquer mulher sabe o desespero momentâneo que pode causar
Depois acalma mas como a morte nunca se esquece
Vem unhas postiças, luvas escuras, mãos nos bolsos
E finalmente um crescer inesperado, uma dor gostosa
E o sossegar do espírito medroso

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

L'a, Bem Mais Perto do Mar

Eu, n~ao sei bem aonde, quando ou se ainda existo.
J'a a saudade n~ao nos resta d'uvidas de que sempre existira e prosseguir'a imortal.
Quem sabe seja por isso que n~ao respondo de vez, a morte.
Talvez continue viva apenas para tentar matar o imposs'ivel, a eterna companheira, a infinita esperan'ca, o inef'avel desespero: toda a saudade.
Ela conhece o mundo. Escolheu repousar em mim em algum lugar que desconforta.
Mas quando o inevit'avel acontecer, a morte de fato me achar, ela se fortalecer'a no peito de outro algu'em querido.
Omnisciente, foi assim que me contou que o mundo repetir'a sua permanente exist^encia,
mamando de peito em peito, crescendo e s'o quase envelhecendo.
Indispens'avel presen'ca, ah, quanta saudade.