terça-feira, 6 de março de 2012

Tanta Estrada, Tanta Estrela

Ela nunca pensou que fosse querer tanto um livro que já tinha em uma língua que não é a sua própria língua materna. A esperança segurava o choro, procurava soluções, nunca as encontrava. Esperava, esperava. Os soluços talvez chegassem só no fim, mas que fim mais indeterminado, impossível, impossível, possível. Sabia que se o livro fosse comprado e lido com atenção, junto aos risos e carinhos que imaginava, e sentia falta a todo instante, tudo sairia como ela sempre quis, ou mais importante ainda, como eles sempre quiseram. Pensava cinza, ouvia Thom Yorke, olhava a foto dele na parede. Tentava focar no teatro. Inesquecíveis cabelos negros limpos. Inefáveis suspiros. Sabia que aquilo era uma coisa boa, pois há quanto tempo não se deixava entregar, e ele lhe dissera algo parecido com isso. Então não esquecia, retornava, retomava, sufocava, porque queria a sobrevivência. Há quanto tempo só se empenhava na morte? Os olhos sorriam. Ela quis perder o avião.

"Se nada nos salva da morte, que ao menos o amor nos salve da vida." P. Neruda