domingo, 15 de dezembro de 2013

Mergulho

às doses de gengibre
ao caos do tempo
enlaço o vento
e vôo mais alto

Fumaça

Da realidade faz-se a própria memória. Da memória a própria alucinação.

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Augusto dos Anjos

Provo que a mais alta expressão de dor consiste essencialmente na alegria.

quinta-feira, 4 de julho de 2013

E até as palavras morrem

Me pego nas mãos de Shakespeare
Junto aos métodos de golpear o tempo
Releio, levo comigo somente incertezas
Daquele passado e desse hoje
E por isso combino aflições ao amanhã

Enquanto não durmo
Ao enxergar em meu reflexo
Quando dou de inventar pela natureza
O esgotável prazer do espaço
O outro finge que foi, ilude ausência

Literatura

Quanto mais teoria, menos poesia

domingo, 30 de junho de 2013

Loucura

Nem sequer um segundo foi preciso
Prisão dos signos de terra
Quiça querer é mais verdade
Do fogo, quem é que sabe
Mas da boca pra fora ascendeu
No meio da multidão
Um momento de ilusão perpétua
Simples assim e em sintonia
Sem outro sintoma ela vem

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Tulipaz

- Ei?
- Tô viajando na Tulipa.
...
- Olha lá a outra cheirando a tulipa.
...
- Não, não é tulipa.
- É claro, é cravo.
- Oxi, brigou com a Rosa mesmo.
- Pixinguinha!

Como é legal essa sua transição.

terça-feira, 7 de maio de 2013

Gostas dos elefantes

"Gostas dos elefantes, muito mais do que de mim..."

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Uma História Tão Contraditória, Assim Como Todas

Hora amor, ou só tesão
Hora dor, pura invenção
Hora saudade, algumas não
Hora tudo, penso em invasão
Hora nada, outrora, paixão
Horas vastas. Basta!
Tudo em vão.

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Imbróglio

Tomam conta dos nós abafados em gargantas
Flagelados corações em apagadas chamas

Os que ousam gritar, quando não enlouquecem
Exageram

Aos que tapam os olhos não restam bengalas
Cumpliciam

Aos que sobrevivem entrega-se a vitória
À morte

Os que nascem encarnam a sarcástica luta
À vida

Os que se iludem superam a eternidade
Frustram

Aos que enobrecem conforta-se a piedade
Em vão

Somam na ponta dos pés incalculáveis vôos
Desmoronados entre os sonhos e a terra

Refugiados

A única realidade é a mente
Numa só, tanta possibilidade
Quantos mundos em frente

Resiste

Gosto de imaginar a liberdade. Dar-lhe forma. Pincel, barco a vela. Quero tocá-la, mesmo que no fim descubra novamente que só é possível torná-la imagem em sonho, ou fazê-la real na mente.

Fortaleza

Aqueles ouvidos
Talvez não mereçam
Aquelas palavras
De quando enlouqueço
Sejam elas de carícia
Ou até desprezo
Por isso, jogo no papel
E livro-me do peso
Na poesia acalmo
E só, enfim, fortaleço

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Caixinha de Fósforos

Quem batia era o tédio. Trouxe as anotações dos sonhos da última semana. Trouxe alguma coragem pra contá-los, e um pouco do medo de ser pego sendo. O descontrole não existia naquele mundo acordado, e quando o descontrole não existe o mundo é pequeno. Então dormia. Dormia tanto que as bolsas pesadas que carregava logo abaixo dos olhos, depressa os fechavam novamente. Naquele dia despertara horas antes da terapia, e analisou por conta própria todas as interpretações que dali poderiam surgir, mas não eram muitas. Antes de priorizar certezas, gostava do vento, mas nunca de tempestades. Teve a época das pimentas, provou até a nuclear, depois veio o sexo que não chegou ao gozo, e é claro que alguma hora chegaria ao marxismo, e chegou, mas jamais saiu da teoria. Seu discurso era bonito naquela época, pena que durou pouco. De fato era um homem sábio. Calculava o tempo, calculava o movimento de seus olhos, os passos sem tropeços. Escreveu sua autobiografia que não passou de cinco páginas, mais parecia um artigo científico, então percebeu que sua vida não havia acabado. Foi aí que começou a anotar seus sonhos.

Quem batia era o tédio. Meu sorriso amarelo o atendeu assim que bateu na porta, com a esperança de que aquela hora passasse correndo. Naquele dia da semana, me tornava um pouco como ele, calculava o tempo. O tempo parecia me castigar, eu envelhecia um ano toda quarta-feira. Imaginava se o tempo afinal também havia se apegado àquele homem, e me castigava por estar lhe sugando dinheiro, em troca de meias palavras, e uma força de vontade esgotada. Ainda assim, devo confessar que aqueles sonhos, por vezes me deixavam entretida. Pareciam filmes de Hollywood, mas era sempre a mesma enganação. Eu sabia que me escondia algo, e ficava grata por isso, imitando seu silêncio.

O tédio entrou. Aqui o nomearei Virgílio, já que romperia com meus juramentos se não o escondesse a identidade. Creio que se sua mãe não tivesse morrido no parto, esse seria mesmo seu nome. Leu seus novos sonhos em voz alta, quase que os interpretou como num teatro. Hoje penso que deveria ter notado desde ali suas tendências homossexuais. Acho que nunca havia exercido meu trabalho com tão pouca vontade. Até as patricinhas me interessavam mais. Os interpretei da maneira que cri agradar. O irritava um pouco o fato de não sentir, de ser intacto, perfeito, nele não haviam contradições perceptíveis. Ele queria viver um sonho, queria ao menos um pesadelo. Queria sentir como os outros, como os filmes, como os poetas, como a vida se propõe fazer pela maioria. Não conhecia o amor, e assim não conhecia o ódio. Virgílio levantou num impulso e foi embora sem se despedir.

Trabalhava numa padaria alguns meses antes. Me contava sobre os clientes que atendia com frequência, e havia até citado certa vez um casal novo no bairro. Eram dois jovens, recém-casados. O marido sempre buscava pãezinhos no mesmo horário, e Virgílio já os deixavam separados. Apreciava em demasia a pontualidade daquele jovem.

Ontem passei a madrugada à flor da pele. O jovem de que Virgílio tanto gostava bateu na minha porta, num desespero que nunca havia presenciado. Me contou que naquela noite chegou ao seu apartamento com os pãezinhos que há meses não comprava, e que Marina sentia falta, como se aqueles representassem um carinho. Dizia que o amor estava acabando. Que ele já não comprava mais pãezinhos. O jovem estava aos prantos. Pedi ao meu marido que lhe fizesse um chá de camomila, que nunca tocou, e nos deixasse à sós.

Ele entrara com passos leves pela casa, pra fazer-lhe a surpresa, e cessar a choradeira. Mal sabia que o choro se viraria contra ele. Sua mulher estava naquele momento sendo esfaqueada. A luz estava baixa e o homem sobre Marina estava de costas, não pôde ver seu rosto. Tentou agarra-lo, lhe socou as costas, quebrou a luminária contra a cabeça do homem, arrancou a faca de suas mãos enfraquecidas, e não hesitou em enfiar a faca contra as costas do assassino. Em seguida arrancou a faca novamente daquele corpo, com o intuito de enfiar-lhe muitas vezes, mas foi quando Virgílio conseguiu virar-se.

Pedro ficou imóvel, completamente traumatizado. Estava em estado de choque, e quando me contava não se lembrou bem se foram essas as exatas palavras de Virgílio antes de morrer "A vida é uma caixinha de fósforos, a minha veio quase vazia, só tive um".

Foram horas até Pedro reagir. Levantou-se dos joelhos, olhou para Marina, que continuava linda. Deu-lhe lágrimas, e muitos perdões, que não consigo recordar tão bem, estava quase tão chocada quanto aquele menino.

Neste momento me entregou um bolo de papéis dobrados, e continuou, "Tinha que continuar vivendo, olhando, machucando, amando, odiando, perdoando. Me debrucei sobre o corpo dele, olhei seu rosto com a proximidade que o balcão nunca me deixou alcançar, e o beijei. Lambi seus lábios secos com leveza. Ele já estava gelado, nessa hora fiquei fora de mim. Bati em todo seu corpo pra ver se reagia, como eu havia imaginado algumas vezes, me querer também." Pedro não parava de chorar, gemia.

Eu estava completamente perdida num mundo cheio de emoções novas, que nunca esperei vir de Virgílio. Me senti péssima. Não sabia o que dizer, não sabia como dizer, não sabia mais nada. Olhei para aquele rapaz, que com os olhos me disse "Abra!". Desdobrei aquelas páginas. Eram os sonhos que Virgílio havia me contado. "Alguns desses são os enredos dos filmes que indiquei a ele quando buscava os pãezinhos, mas acima estava escrito seu endereço, e vim assim que consegui me recompor um pouco. Eu sabia que ele fazia terapia." "Esses eram os sonhos que Virgílio me trazia para interpretar." "Pois é, trouxe para que os analise e pense. Não eram apenas sonhos. Espero que me conte depois."

Mas não vou. Li todos aqueles sonhos mentirosos, e os queimei. Guardarei para mim o pouco que as entrelinhas contavam sobre o homem que fugia do mundo. O mundo fugiria dele.

Por Virgílio, deixo a vida me engolir sem medo. Eu que nunca pensei que uma caixinha de fósforos fosse mais que fogo, que acender cigarro, ou fazer samba. Eu que lhe via intocável, sem graça. Que ironia. Ironia seu fim. Ironia meu fim. Irônica a vida. Vou acender o último fósforo que me resta.

quinta-feira, 14 de março de 2013

Mil Pétalas


Ela que já não vive no marasmo
Que tem múltiplos deveres
Mas conquistou alguns quereres
Até tem múltiplos orgasmos

Elas, Cecílias e Clarices
Cheias de tarefas
Se encheram da Josefa
Que as enchia com tolices

"Mulheres assim,
Mulheres assado
O teu nome é sagrado"
No limite do confim

Esposas, mães, filhas
Amantes, cheias de vontades
Com suas novas identidades
Anas, Clarices e Cecílias

Não, não choram mais
Olham seus olhos
Refletir força no espelho
Querem gozar em paz

Cada ela são mil elas
SoFridas, Virgínias e Tietas
Elas as sonham borboletas
São aquarela na querela

sábado, 2 de fevereiro de 2013

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A arte é o sonho. O sonho é a arte.