sábado, 29 de dezembro de 2012

O Bicho

Lá do alto o verde-ouro
Inspira uma orquestra em sopro
Contra a corrente
Um passarinho vem e volta
Quando bem entende
Enquanto árvores coreografam o vento
Do mais gracioso momento
Fez-se o cântico
Que o homem conceituou liberdade
Mas logo a encolheu em vaidade
E de muito flores e abelhas observar
Quase aprendeu a amar
E de tanto a natureza o aconselhar
Um dia, ao menos,
Encontrou tempo pra sonhar

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

O Beijo

Tua carne é a única experiência da liberdade total de minh'alma.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Sobre o Tempo - Perdido

Enlaçam a garganta: palavras
Os ecos embaralham-se ao futuro
Não se sabe se agora sua ou chora
Mas implorara ínfima presença
No pranto de um árduo estar
Escorregara em múltiplos prazeres
Desatáveis de pesares eternizados
Fantasmas só sobrevivem sem a razão
Sustentam-se em haver. Em haver haverá?
Será passional enquanto passivo?
Entre berros inescrupulosos
Horas acostumam-se a serem perdidas
Jogos de azar, criados da culpa
O ciúme trapaceia, e a alegria sucumbe

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Deixa Eu Cantar

A voz de Caetano abençoa o nosso amor.
Me deixa acreditar, me faz cantar, flor.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Até mais tarde

A falsa liberdade
do ex-escravo teve idade
De sobra pro samba chorar
Pra improvisar até o jazz berrar
E de tanto acumular infância
Toda noite é blues em abundância
Mas foi bem no carnaval
Que a felicidade se tornou fatal
E fevereiro dá uma saudade
Comendo o resto só de ansiedade

domingo, 28 de outubro de 2012

Sunny Day

Enquanto o sol escapa aos domingos
A cachoeira não sabe que também a espero
A alma incônscia de si, sem fins heurísticos
Numa sala de cinema entretendo horas
A arte afasta-se da vida, e ressuscita ausente
O velho tortura o novo, e o novo martiriza o velho
Mas distantes, um continua apoiando o outro
Lutando pela esperança de se caberem em paz

domingo, 21 de outubro de 2012

Lá Fora

Já é passada a hora
De levantar vôo, simbora

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Quem sou, Virginia Woolf?

Quem, eu-lírico
É eu, sou eu?
Quantos ecos
Ele também narra?
Qual volta dá meu eco
Em cada um?
Que cognição Bakhtin
guardava no coração?
Como se distingue éticos
Sem os sofistas?
O que seria de quem bate
Sem Maquês de Sade?
E que independência moral
de Jean-Paul Sartre?
O que se ouviria nos bares
se não tivesse tido Beatles?
O que seria do amor
Sem a memória?
E de Claudinho sem Bochecha?
O que se faria da matéria
Sem as idéias?
De quem mais é tua história?
Quem é o outro em você?
Quem é você no outro?
Que lírico nasce aqui?

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Tão Amável

Fôlego para correr
Saudade para querer
O mundo entre nós
Já estamos sem voz
E o tempo se espalha
Em cigarros de palha

Enquanto João Gilberto
Me traz um pouco perto
Choro ondas de Copacabana
E no teu sonho sou cigana
E da música se fez a lírica
De mim, cataratas, enfim

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Conto de Cada II

É teu meu coração
Ai, Enfrento o medo
Vou até de avião
Boto anel no dedo

Ah! Acende essa brasa
Que a noite é nossa
Melhor ficar em casa
E ouvir uma bossa

Amanhã mais invasão
Não nos resta segredo
Às vezes perco a razão
Digo: te vejo em Oviedo

Quisera ter asas
Olhar proutra moça
Ah! Vê se te afastas
É meu o Leite Moça

Conto de Cada I

É ônibus lotado
Ê! fome de vida
Tá sem medida
Ei, você entediado

É perda de tempo
Seguir o vento
E quanto por cento
Vale o passatempo

É uma só corrida
Ei! Voa, atrasado
Chão no pé, arrastado
Ê! Semana comprida

Nem autoconhecimento
Ou qualquer contratempo
Mas não recebe aumento
Ei! Sempre atento

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Enfim

Ah, percurso interminável
Traçando ruga experiente
Nesse querer inexplicável
Cometes loucuras consciente
Atrás daquele amor inefável
Tu caminhas quase descontente
Crente de tornares saciável
Estrada sem saída em frente
Que tal prazer inesgotável
Te abandonará só demente
Talvez, fera indomável
A vontade imperará ardente


(life will be like a song)

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Esse Mundo

E se aquele dia não tivesse chuva
Quem sabe a gente aprendesse espanhol
Também. Talvez um vizinho grande
Será que seriam besouros gigantes
E o velhinho usaria havaianas
Na propaganda com São Cosme e Damião
E o tango tentasse comprar o samba
Imitariamos o silêncio no Canadá
Saci fugiria num pulo pra Bogotá
Perdia tempo, esperava a melhor carne
E hoje deixava pra mais tarde
Tomava uma cerveja, duas, três
Agora a saideira outra vez!
Flor enfeitava o cabelo da morena
A dor e a fome não saberiam de cor
Tomara que tivesse muita ponte
E ao menos amizade nos fosse comum
Se a gente continuasse engatinhando
Corria até você pra assoviar
A canção que o sabiá me cantou
Tu secava as lágrimas do mar
E a saudade pra sempre nossa
Mantinha o mundo na ponta da língua

domingo, 23 de setembro de 2012

Descontrole

Botão por botão
E meu coração
Nu, nada fosco
Ele em pele e osso
Cor de Caetano
E eu dançando
Pelos poucos pelos
Adoro tê-lo
O lençol de lado
A gente enrolado
Esquece o mundo
Se quiser me mudo
Mais pra cá
Cê toca em lá
Mas muda não fico
Sempre te digo

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Proposta em Aliteração

Torta atrás da porta
Tonta de tanto tentar
Desfiz aquele topete
No tom do trompete
Sai debaixo do tapete
Entra e senta
Entre quatro paredes
Agora no parênteses
Pra que partir?
Para pra pensar
Meu presente procê
É privado de um porquê
Dum novo ponto de partida
Ensaiamos passos práticos
Pro parque nos esperar
No entanto, por enquanto
Sossega em segredo sóbrio
Sobre suar, e sentir
Shh... Prosperará...
Entregue, pronto, e sábio

sábado, 15 de setembro de 2012

Way Out

A filosofia não é o bastante
Ali sossega a dor da falta dela
Num livro a liberdade morreu
O amor sempre triunfa na TV
Nas fotografias o riso intocável
O choro deixado pro fim de domingo
Enfrenta o peso de toda segunda-feira
Dura a vida dura, mata a ilusão
Eternidade não é pra nós
Gritam os nós nas gargantas
Abafando a trilha sonora perfeita

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Eternamente, Iolanda.

Minha avó tem o dom da vida, imprescindível para sorrir e fazer sorrir. E hoje me inspiro nela para dar valor às coisas simples, que faz dela o ser humano pelo qual sinto maior orgulho. Dar valor às coisas simples só pode ser um dom maravilhoso, e quando penso em minha avó é de todas essas pequenas coisas que a fazem tão simplesmente alegre que me lembro e guardo com carinho imenso. Nada mais gostoso do que chegar todo dia em sua casa e ouvir "chegou minha netinha!" antes da refeição inigualável que virá, feita com tanta dedicação e amor. É incrível ver como as pitadas de amor que vem em cada garfada são insubstituíveis. Eu adoro a ouvir cantar aqueles sambinhas antigos, cantigas de carnaval. As pessoas querem mais do que precisam e não se satisfazem, não estou fora da lista, mas minha avó aprendeu com a vida a sorrir pra o que pra muitos seria comum, e talvez só assim se pode ser contente e iluminar e unir a família todo dia como ela consegue fazer. Minha avó é um ser autêntico, e vejo amor em tudo o que ela faz, por isso a amo, e sei que ela merece sempre o pedaço do bolo com o morango em cima. Mulher forte e simples, minha avó, um ser inigualavelmente lindo. À desejo música, e vida, porque amor ela já tem de sobra! Te amo, Iolanda! - 19 de julho. Aniversário de 71 anos da mulher mais linda que conheci, minha avózinha.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

A mente

A mente não deve ser modificada pelo tempo e pelo lugar.
A mente é o seu próprio lugar, e dentro de si
Pode fazer um inferno do céu, do céu um inferno.

Trecho de Paraíso Perdido de John Milton.

sábado, 18 de agosto de 2012

Noite

As estrelas começaram a sentir falta de serem espiadas, enquanto uma nuvem tentava dominar o infinito. Mas a formosa lua ainda nos confortava. Ameaçava cair sobre as nossas cabeças, pendendo no céu, cansada. Não importava, nós não nos poupavamos de adimirá-la quase toda noite. Às vezes a hora de voltar parecia prolongada, e quando vinha iluminava poucos. As luzes das casas demoravam a apagar, mas ali por volta da meia-noite, era como se um vento forte viesse correndo pelas escadas de Coimbra, e a inundasse de escuridão. A cidade abrigava à todos. Ali pelas ruas só restava quem queria estar. Nossos olhos brilhavam. Era tempo de sentir o mundo, e o Vinho do Porto que compramos em Douro duas semanas atrás. O silêncio era gostoso como entrada.
- Essa tentativa de uma perfeição linguística deles me irrita, sabe? Pra mim a língua reflete na personalidade da pessoa, e a personalidade da pessoa se reflete na língua, mas eles quase conseguem montar as mesmas frases perfeitas.
- Parece que estão lendo todos o mesmo livro, e chegaram a decorar palavra por palavra. Uma coisa meio robótica, sem sal, e sem açucar.
- Ou uma coisa, ou outra: a gramática, ou algum parnasiano insuportável.
- Eles tão é imitando as dores de cabeça do João Cabral!
- Hahaha... Sinto falta de Vinicius.
Um moço de boina xadrex, calça e camisa social desabotoada até perto do umbigo, provavelmente estudante de direito, vinha em nossa direção, mas parou antes que chegasse até nós. Estendeu um pano colorido no chão, e sentou-se acompanhado de um violão calado, e uns quantos cigarros soltos.
- Minha salvação!
- O que? Vai pedir o violão emprestado pro cara?
- Não. Uns cigarros. Mas vou esperar um pouco.
Depois de alguns minutos com os olhos de quem pede fixos nos meus, saiu se arrastando. Tomei um gole, outro... encostei minha cabeça na mochila, pensei que queria ir pra lua um dia. Foi aí que percebi que estava bêbada, me virei procurando por ele. Olhei a lua de novo, nos imaginei flutuando lá, mas as cordas que agora vibravam, me dividiram a atenção. "and all I have to do is think of her..." Doavamos o silêncio aos outros, e à noite, era o vento quem guiava.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Braços Inefáveis

Capaz de me confundir os braços com as pernas, capaz de me confortar tamanha confusão, capaz de ser íntima e inconfundivelmente feito pra mim, capaz de me deixar seduzir a ponto de esquecer a vida ali fora, capaz de me fazer inteira presente, capaz de almejar as delícias de não querer a razão, capaz de calar, capaz de só sentir, capaz de matar a sede, capaz de maltratar a saudade, capaz de sonhar sua infinitude, capaz de acordar infinito, capaz de viver, ver morrer, e ressuscitar o amor.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

O que será (à flor da pele)

O que será que me dá Que me bole por dentro, será que me dá Que brota à flor da pele, será que me dá E que me sobe às faces e me faz corar E que me salta aos olhos a me atraiçoar E que me aperta o peito e me faz confessar O que não tem mais jeito de dissimular E que nem é direito ninguém recusar E que me faz mendigo, me faz implorar O que não tem medida, nem nunca terá O que não tem remédio, nem nunca terá O que não tem receita O que será que será Que dá dentro da gente e que não devia Que desacata a gente, que é revelia Que é feito uma aguardente que não sacia Que é feito estar doente de uma folia Que nem dez mandamentos vão conciliar Nem todos os ungüentos vão aliviar Nem todos os quebrantos, toda alquimia Que nem todos os santos, será que será O que não tem descanso, nem nunca terá O que não tem cansaço, nem nunca terá O que não tem limite O que será que me dá Que me queima por dentro, será que me dá Que me perturba o sono, será que me dá Que todos os ardores me vêm atiçar Que todos os tremores me vêm agitar E todos os suores me vêm encharcar E todos os meus nervos estão a rogar E todos os meus órgãos estão a clamar E uma aflição medonha me faz suplicar O que não tem vergonha, nem nunca terá O que não tem governo, nem nunca terá O que não tem juízo
Chico Buarque

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Vamos andando...

A alienação impera em padrões estabelecidos do que deve ser uma mulher. Claro que o homem também não está fora das imposições da sociedade, inclusive a machista, mas a história não nos deixa negar que a condição da mulher fora e ainda é, infelizmente, muito menos liberta do que a de ser homem.
Freud fora mal interpretado quando falou sobre o "complexo de castração" ou "inveja do pênis". Não era o que ele achava que a mulher deveria sentir, e sim o que algumas das mulheres que analisou demonstravam sentir. Não posso deixar de lado o maior estudioso da mente humana já existente, quando compreendo que esses padrões são estabelecidos e criados pela mente humana. Este órgão sexual representa a mais visível diferença entre os dois, um o possui, a outra não, e os pensamentos que acabam por deixar a mulher numa posição abaixo da que o homem exerce na sociedade, foram obviamente criados por eles. Portanto, o pênis se torna símbolo de poder, da qual a situação de inferioridade da mulher a fez alguma vez invejar.
Com isso, pode-se começar a compreender o feminismo. Hoje temos uma repartição neste campo, aquelas que são "femistas", ou seja, aquelas que acreditam que a mulher é melhor do que o homem, que deveriam trocar de lugar. E a "feminista" que acredita que a mulher é tão capaz quanto o homem em todos os âmbitos, e pretende alcançar uma igualdade real, sem que seja necessária uma dominação por qualquer uma das partes.
O despertar desse texto em mim, foi quando ouvi a conversa de um velho e uma mocinha concordando "as mulheres deveriam parar com essa história de feminismo, e se preocupar com a feminilidade que está sendo esquecida."
Gostaria imensamente de ter o livro "O Segundo Sexo" em mãos agora para poder resumir citando algumas linhas que Simone de Beauvoir, tão perfeitamente descrevera o pensamento alienado. Assim prevejo que terei que me prolongar um pouco mais. O que tenho na ponta da língua é: "Não se nasce mulher. Torna-se mulher."
Aprendemos com a sociedade a postura necessária para se tornar uma mulher. Caso uma mulher se ache mais bonita fora dos saltos, caso uma mulher se ache mais atraente fora da acadêmia ou da cirurgia plástica, caso uma mulher se sinta mais confortável de cabelos curtos, ela não estará exercendo a sua função de padronizar a beleza, sua função de ser um pedaço de carne enfeitada.
Um dia desses, discutíamos besteiras em sala de aula, quando a professora doutoura fez uma observação: "Percebam como temos poucas professoras bem sucedidas profissionalmente e casadas. Porque vocês acham que isso acontece? O homem não gosta de mulher mais poderosa do que ele. Vocês tem que ver o que é prioridade para vocês."
Quer dizer que tenho que escolher entre um sucesso ou outro? Quer dizer que as mulheres solteiras não podem ser tão felizes quanto as casadas? Quer dizer que nenhum dos casos foi por escolha da própria pessoa, e sim por um ser que tem a confiança arrasada porque uma mulher, ó ser tão inferior, conseguiu um salário melhor do que o dele? Quer dizer que devo entender que o homem pensa que devo ser inferior a ele, para que ele me ame? Quer dizer que devo amar alguém que me acha inferior ao ser que amo?
O passado serve para nos ajudar a termos mais rebolado pro futuro, mas o passado ficou no passado, e a igualdade é o que buscamos, não queremos baixar a cabeça deles, e sim nos olharmos frente à frente, como qualquer ser humano tem direito.
Relações de dominação existem, mas nem por isso devemos contemplá-las como se fossem as melhores, esquecendo que temos a capacidade de racionalização, por isso podemos transferir esse "instinto de dominação" para dominação das nossas próprias ideologias, e não aceitarmos condições que nos colocam inferiores, nem de querermos inferiorizar o outro. Somos todos iguais? O discurso contrário seria abominável prum mundo que hoje discute tanto a necessidade do respeito entre as diferenças. Somos todos e todas tão capazes e merecedores quanto. Não é apenas o homem e a mulher que são diferentes, são todos os seres humanos, com objetivos, e felicidades diferentes. É nítido que o discurso da igualdade continua atrasado apenas teorizando. Claro que isso não se restringe às mulheres, mas à toda camada inferiorizada da sociedade.
Respeito é essencial, e não preciso citar aqui os inúmeros desrespeitos que mulheres sofrem pelo mundo à fora. Só de passear na rua com o shorts menor do que de costume, ouvimos frases que na maior parte das vezes não queremos ouvir, e ficamos constrangidas, mesmo não tendo feito nada. Bom, o machismo está no dia-a-dia, escancarado, mas tão cravado no íntimo da cultura que já nem se percebe mais sua presença, e pesar de existir. Passa da hora de botar a história pra andar.

terça-feira, 31 de julho de 2012

Fica pra próxima

O céu secava o sonho
dos minutos de chuva
A falta partia a terra
Pela terra partia-se logo
com a cravada esperança
que da terra partia cedo
Na terra a vida plantava
a carne marcada pelo sol
O suor atrasava a lágrima
que não podia curar o calo
O coração repetia terra-te...
Terra-te... Terra-te...
A cabeça ecoava a música
Os olhos focavam a vida
mas a fome comia o dia
e a vida matava o homem
que esquecia de olhar o céu que
prometia pra próxima a filosofia

segunda-feira, 30 de julho de 2012

A Pilar, o pilar de José.


O encontro entre José Saramago e Pilar Del Río fora essencial para a vida e ascendência do primeiro autor em língua portuguesa a ganhar um prêmio Nobel. Era tão perceptível a pureza desta união que portugueses decidiram eternizá-la em duas ruas que se cruzam, uma chamada “José Saramago” e outra “Pilar Del Río”.

A história deste casal mais uma vez fora eternizada pelo filme de Miguel Gonçalves Mendes, o qual esteve durante quatro anos acompanhando-os para a realização da filmagem. Nos 125 minutos do filme “José e Pilar” fica explícito a intensidade do companheirismo e amor que existira entre o escritor e a jornalista.

Neste período Saramago teve problemas de saúde, e apesar de demonstrar medo por não conseguir terminar sua última obra “A Viagem do Elefante”, a qual felizmente concluiu, parecia às vezes sem forças para continuar, mas Pilar enfrentava com ele seus medos e com seu pulso firme dava-lhe motivos para levantar a cabeça e seguir com seu trabalho. O objetivo da não desistência era mútuo entre os dois, tentar melhorar o mundo através da literatura.

Pilar Del Río demonstra diversas vezes sua intelectualidade, que não poderia faltar na mulher que um dos maiores pensadores do século XXI destinou-se a amar com tamanha fervorozidade. Saramago não pensava duas vezes antes de dividir esse amor com o resto do mundo. A agradecia em frente à todos por sua dedicação, e também por ter tornado sua vida mais fácil de ser levada.

No lançamento de “A Viagem do Elefante” em 2010, que ocorreu na cidade de São Paulo no Brasil, Saramago diz que sem Pilar não teria sobrevivido ao câncer e então não teria conquistado mais uma obra finalizada.

O filme mostra um lado até então não tão conhecido de Saramago, talvez o “José”, deixando um pouco de lado sua vida de escritor, e dando ênfase à intimidade e ao maior romance vivido por ele. História que não é de se jogar fora, pois fora grandiosamente relevante para os caminhos que Saramago decidiu percorrer após conhecê-la.

Em 1986 os dois se conhecem, através de um pedido de Pilar por esse encontro, após ter lido todas as obras de Saramago publicadas em espanhol. Pilar era muito mais jovem que Saramago, tinham 38 anos de diferença, mas isso não foi empedimento para os dois, sendo que as duas mentes quando encontraram-se rejuvenesceram. Pilar tornou-se tradutora do português para o espanhol das próximas obras realizadas, e depois de dois anos desse primeiro encontro casaram-se.

Em uma parte do filme José Saramago diz “Eu tenho idéias para romances, e ela tem idéias para a vida, e eu não sei o que é mais importante.” O importante é que as duas idéias uniram-se e deram tudo de si para fazer o melhor possível de todo esse amor indiscutível.

domingo, 29 de julho de 2012

Simone, Sartre, Che.

Momento de me redimir a querer ter sido em outra vida uma mosquinha ali.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

O medo só serve para dar razão à coragem, portanto se necessitam.

Vírgula e Reticências

Tirei o peso das costas, e me sentei ali vazio. Abri meu livro. Li umas quantas vezes "Conhecemos um homem pelo seu riso", e lembrei em cada uma dessas vezes de uns tantos risos. Olhei as pessoas em volta, todas esperando, fosse alguém, fosse que as rodas do ônibus começassem afinal a rodar, fosse a vida, fosse a notícia, ou fosse a morte. Nenhum riso. Esvaziei os pulmões num longo suspiro.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Perfume

O ciúme sem porquê, é a abstinência do vício.

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Tudo até o fim, mais uma vez

Amor,
Basta o simples momento
Do breve encantamento
Que o toque tece
E minha pele estremece
E os sonhos voam
Soam: "Roube uma flor!"
Daqueles grãos de amor
Que sujamos as mãos
Pra enfeitar o coração

Mas às vezes me engano
Escondo sob o bordado do pano
O detalhe que ninguém percebeu
E nem eu... nem eu...
Veja bem, saiba que ainda
O amor não morreu
Ouça, a vida não pode ser linda
Sem fantasia, sem o sol que vem
Não nega nada mais, meu bem

quinta-feira, 21 de junho de 2012

You give me fever

Etta me contou do amor. Jill me ensinou a amar.

domingo, 17 de junho de 2012

Sueño

Mi sueño es comprar la interpretacion de los sueños. Cual es la interpretacion?

sexta-feira, 15 de junho de 2012

A Poesia Escancarada

Desmontei um cubo mágico
Corri pro lado da arte
Desviei o sentido daquela resposta
Desfiz o nó da tua gravata
Desmascarei a noite na minha cara
Caminhei pr´outra direção da morte
Matei o que me estancava a liberdade
Vivi, vivi todo instante
Cantei aos bravos canções de ninar
Soltei com os fracos, a voz calada
Amorteci os lábios da vossa violência
Caí pro meu lugar, voltei só pra repousar
Engoli o mundo, o povo, o silêncio
Morri de amores, algores, e âncoras
Cresci de amores, algores, e âncoras
Tirei os pés do chão por cada poeta morto
Subi de pressa, de curiosidade
Ouvi os versos de tamanha insanidade
Descobri que a vida é mais que explicar

terça-feira, 12 de junho de 2012

Short Story

I´d this dream last night, that I was walking down the street, and I met with an amazing black horse. It was free, and I tried to look for someone that was the owner, but I never found. So, I was so late to meet my girlfried, that I didn´t imagine I would have such a problem when I took the horse, and went straigh away to my girlfriend´s home. But this story is not about the horse. That night my girlfriend broke up with me, and I was so in love that I thought I was crazy. I was hearing a strange sound that I never listen before. It was like "triiin... triiin". When I started looking for it, the horse was running, and I couldn´t stop it. I´ve found this small thing, shinning. On this black little shinning thing was writting James calling... What was that? I was pretty scared, and I wanned to stop. After two hours, the horse stoped closer to those amazing lights. My head was turned to the sky, but not to look the stars, and to look at those strange lights. It was night and I could see almost everything. Something had changed so much, that I almost can not explain. My hands were sweat, my eyes were tired, my life was a real mess. Out of no where, one girl with almost no clothes, she was wering pants, came to talk with me. She asked me if I was all right, and I didn´t lie. She wanned to help me, and she brought me to her home, where she was living alone. Where was I? I couldn´t stop wondering. And than when we alrrived to her apartmant, I started to hear this noise again. The horse I left don´t know where. She had almost the same black little thing that I found before. She took that and put it on her ear, and she did start talking with it. Really, at that time I wanned to run away. She was actually more crazy than me! She said that I needed to calm down, and brought me some wine. Terrible wine, you know? But I got drunk really fast, and I think she did it too, cause she was dancing very close to me. So she started undressing me. I was thinking she was going to kill me, but she made me really happy for some minutes, until I crash my head on the wall very hard, and wake up. It was the most beautiful dream of my life. When I opened my eyes at that morning, I was scared in my castle, married with the pants girl.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Às vezes Vinicius me conta

E eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos! Até mesmo aqueles que não percebem o quanto são meus amigos e o quanto minha vida depende de suas existências... A alguns deles não procuro, basta-me saber que eles existem. Esta mera condição me encoraja a seguir em frente pela vida. Mas, porque não os procuro com assiduidade, não posso lhes dizer o quanto gosto deles. Eles não iriam acreditar! Muitos deles estão lendo esta crônica e não sabemque estão incluídos na sagrada relação de meus amigos. Mas é delicioso que eu saiba e sinta que os adoro,embora não declare e não os procure. E às vezes, quando os procuro, noto que eles não têm noçãode como me são necessários, de como são indispensáveis ao meu equilíbrio vital, porque eles fazem parte do mundo que eu, Tremulamente construí e se tornaram alicercesdo meu encanto pela vida. Se um deles morrer, eu ficarei torto para um lado. Se todos eles morrerem, eu desabo! Por isso é que, sem que eles saibam, eu rezo pela vida deles. E me envergonho, porque essa minha prece é, em síntese, dirigida ao meu bem estar. Ela é, talvez, fruto do meu egoísmo. Por vezes, mergulho em pensamentos sobre alguns deles. Quando viajo e fico diante de lugares maravilhosos, cai-me alguma lágrimapor não estarem junto de mim, compartilhando daquele prazer... Se alguma coisa me consome e me envelhece é que a roda furiosa da vida não me permite ter sempre ao meu lado, morando comigo, andando comigo, falando comigo, vivendo comigo, todos os meus amigos, e, principalmente os que só desconfiam ou talvez não sabem que são meus amigos!

terça-feira, 29 de maio de 2012

Um Dia Desses

Teu miss you
É tão fraquinho
Perto da força
da minha saudade

Se eu soubesse
Teria sorrido jamais
Ai, Se eu voltasse
Teria sorrido bem mais

Eu... se eu pudesse
Voltaria a sorrir
Será, se eu contasse
Te convenceria a vir


Se eu quisesse
Eu te esqueceria
Mas e se eu fosse
Quando eu voltaria

Se eu aceitasse
A condição de viver
Talvez se, eu seria
Bem quieta a sofrer

Se um tanto esperasse
Eu te surpreenderia
E se quando eu chegasse,
quem dera... te amaria

Tom & Vinicius

I know and you know, seeing that life wanned this way That nothing in this world will take you from me I know and you know that the distance doesn´t exist That every big love Only is really big if is sad That´s why, my love Don´t be afraid to suffer That every paths refer me to you As well as the ocean It´s only beautiful with the moonlight As well as the song Only has a reason if it´s sing As well as one cloud Only happens if it rains As well as the poet Is only great if suffers As well as to live Without loving isn´t to live Doesn´t has you without me And I don´t exist without you
Translation of the song "Eu não existo sem você".

domingo, 27 de maio de 2012

Caminho

O gosto da novidade, as curiosidades, os contatos, o intercâmbio, a saudade. Pode ser um vício, mas o que pode ser mais gostoso do que a liberdade de um novo país? As fotos me trouxeram aquele sentimento que geralmente só a música consegue dar, o sentimento de nostalgia extrema. Quis voltar áquelas terras que você só sente o sol a noite, grudado na pele. O futuro que só pode ser um ponto de interrogação até a hora da próxima passagem. Eu amo principalmente o primeiro dia de uma viagem. É essa sensação que me volta, da noite que chegamos ao Uruguai e fomos à praia beber grapamiel, e tentar um espanhol ainda fraquinho. Do vento batendo na cara, e um mundo novo pela frente. Dividir risadas e impressões com uma velha amiga, guardar segredos. O que acontece onde formos, fica aonde formos, e na lembrança que instiga mais. As pessoas com as quais vivemos momentos incríveis, provavelmente inesquecíveis, e que nunca mais voltarão ao nosso encontro. Lembro de quando chegamos ao Chile, e naquele taxi até o hotel, não pisquei o olho, numa quase escuridão, sem trocar uma palavra com minha mãe, até porque seria desnecessário. Quem adivinharia o que eu iria pensar antes mesmo de pensar, senão ela? Mal pude ver qualquer coisa, mas era emocionante. E então no Rio de Janeiro, cidade que desde pequena quis tanto ver, e sempre me sobrou algum tipo de medo. Quantas vezes desisti, até chegar. Traduzo na memória as palavras em inglês que usei para tentar descrever minha felicidade do impulso ter tomado conta de nós, uma história de amor. Do caminho até a praia mais citada em músicas na história, das prostitutas, do medo da comentada violência, dos sambas, dos choros, das bossas que eu traduzia enquanto isso. Os papos intermináveis sobre o psicológico, enquanto o vinho nos enviava sensações para calarmos e nos deixarmos viver a alma. A vida passava lá fora, e acontecia dentro de um quarto, mas nem por isso, não era novidade, liberdade. São lembranças tão quentinhas. Não vejo a hora de embarcar. Conto os dias pra coragem me abraçar, o dinheiro chegar, e o tempo me permitir não tentar prevê-lo.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

El Orgullo

"El orgullo no es el opuesto de la vergüenza sino su fuente, la humildad pura es el único ántidoto para la vergüenza." Finalmente uma tradução para meu pensamento. Só não sei a fonte, a minha foi o facebook, e o google não respondeu.

Traduzir-se

Uma parte de mim é todo mundo: outra parte é ninguém: fundo sem fundo. uma parte de mim é multidão: outra parte estranheza e solidão. Uma parte de mim pesa, pondera: outra parte delira. Uma parte de mim é permanente: outra parte se sabe de repente. Uma parte de mim é só vertigem: outra parte, linguagem. Traduzir-se uma parte na outra parte - que é uma questão de vida ou morte - será arte? Ferreira Gullar

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Chá para Dois

Gritava, gritava a ponto de minha garganta falhar a melodia desafinada. Ria, ria incessantemente de minhas inaceitáveis verdades. Minhas mãos se contorciam, me matavam por parar a violência prestes de sair das próprias. Me curvo até a palma se estender no chão, meus pés estão se aguentando nas pontas, e as minhas pernas que nunca foram poupadas de olhares, enrijecidas. Minha cabeça sonhava um salto, mas se fixava cada vez mais na melhor metáfora para a realidade. Eu não sabia evitar o sonho do salto, nem que me espatifasse no chão, e que pudesse durar qualquer Etta James. Sempre fui a música, espalhada no ar, correndo aos ouvidos de quem presta ou não atenção, até que alguém me tocasse. No mesmo momento uma mão macia passara por meu ombro lentamente, foi aí que realmente cessei a gritaria. Se derramava por meu pescoço, e descia através de meu peito, em busca de meus seios que sabiam que seriam tocados, e por isso, meus olhos se viraram a eles para finalmente ver como era aquela mão. Era uma mão delicada demais, apesar da suavidez não esperei por tal aparência, e me virei como uma bailarina curvada para olhar nos olhos de quem me fazia querer levantar. Era um homem, mas só poderia ser um homem tão feminino para tamanha imediata compreensão do que eu necessitava. Me olhava fixamente, mas não como aqueles outros olhos ao redor, assustados. Me fitava como se pudesse prever minha naturalidade ao beijá-lo. Meus lábios tortos o tocaram alguns segundos antes de cair. Ouvi gritos, mas não me importava, os meus foram ouvidos, e eu só queria que ele caísse ao meu lado. Sua pequena mão me buscava de novo, para me levantar, como se o que eu precisasse fosse voltar ao mundo, eu o olhava novamente no meio deles. Mas nada pode estar mais vivo do que o chão, aquele que nos une, aquele que nos prende, que nos cansa, que nos oportuniza a dança, que nos come enfim, e eu em silêncio implorava pela sua femininidade, e ele em silêncio implorava que buscassemos privacidade. Meus ouvidos se encheram de lembrança, e eu cantarolava Jill Scott. Agarrei sua mão, e minhas mãos enquanto todas as veias possíveis transpareciam, esperavam por ajuda. Meu corpo todo se alinhava, para que nós dois unissemos nossos corpos loucos para se despir, no mais forte dos atos de sedução, a dança. Nos avisaram, interrompendo a música, que o disco em momento tão embaraçoso e talvez triste como o de meu desespero, minha alucinação de liberdade, havia sido por alguém que se achava caridoso, parado no ar. Ninguém mais ouvia que o som do vento que batia na janela, que nossos passos, meu salto, a respiração e o bater do coração dos pobres e diferentes reatores, faziam a música da vida. Fomos afinal aplaudidos, como se resolvessem um emocionante fim de filme, que seria melhor acreditar num teatro do que na loucura de uma mulher. Foi então que acordei, me curvei com leveza, dobrando meu braço direito à frente de minha cintura, levantando meus cílios ao topo para olhar o público careta. Ele levantou sua mãozinha pela atenção do garçom e no novo café da cidade, pediu: chá para dois, por favor.

terça-feira, 15 de maio de 2012

Insônia

Insônia
é quando
os carneiros
cansam de pular,
você cansa
de contar,
e começa a fazer
ritmo dos pingos
que sobraram
do velho chuveiro.

Chirrimoya

Te traria uma ou mais boas memórias e fotografias, mas te trago incertezas. Sei que não é isso que se espera de uma mulher, mas não sei ser um porto seguro. Posso ser um porto. Posso ser uma andorinha. Não posso ser um porto. Posso ser um desses barcos aqui à frente, uma palavra em espanhol, sutil. Posso esconder entre essas faces desertas, a minha, saudosa. Se me machucam as pernas, os cerros, são para que o tempo me passe pelas veias e sinta cada instante passar se aproximando cada vez mais de ti. Eu quero ser uma andorinha. Posso voar hasta mañana, ser poeta, beber vinho. Quero repousar no meu carinhoso país, minha bandeira. Doar ao mar todo o corpo, me sentir só. Quero a liberdade. Acostumo as cicatrizes, mato a sede, penteio os cabelos, sinto falta de alguns colos. Ah, meus colos amados... Quem dera os pudesse levar à todos os lugares. Vou e volto. Gosto de sair, gosto de ficar, gosto de voltar, gosto de ficar. Sou uma andorinha só, com pés frios, mãos quentes e coração partido. Partindo sempre. Não sei viver por ontem nem por amanhã, e aqui não favorece em nada o agora. Quero carinho, Pablo, Vinícius, Clarice... Gosto do gosto de minhas lágrimas, de meus sorrisos, de meus gritos e dúvidas. Nunca procurei pela razão. Ter certeza não glorifica nada. Quando penso que encontrei o certo, me incolho, tenho medo. Necessito o que é humano demais, o que não se explica, o que Freud cansou de indagar. Peco, porque sou humana e não acredito em pecado, apesar de às vezes me tornar um. Adoro rir com o corpo todo. Eu casaria quantas vezes acreditasse. Não quero saber muito da poesia, quero vivê-la. Ainda bem que tem Chirrimoya, e os Andes do avião. (Valparaíso, Chile, carnaval 2012)

sábado, 5 de maio de 2012

O Sol se foi

Num ponto da imensidão
Logo abaixo da lua inteira
Duas estrelas pareciam paquerar.
De onde as vi, quando abri a janela
Estavam tão proximamente flertando
Que a lua, refletindo a luz do sol
Não me dizia nada além do indefinido,
Parecia o futuro brilhando.
Mas o que vi, depois de reparar
Foi que cada uma das duas estrelas
Iluminavam-se por conta própria.
-
E que talvez quisessem que uma nuvem as cobrisse
Mas que talvez escrevessem juntas uma história de amor
Sobre a Terra e a Lua
Ou ainda talvez implorassem à seus Deuses para ressucitar
Para que dançassem coladas com fim de matar saudades
-
Enquanto o sol ainda aquecia a noite
A terra ronrona sua música
A lua tentaria novamente, em vão
Desfocar o brilho das estrelas.
As estrelas que agora uma nuvem
Me esconde aos olhos,
E eu flerto a lua na imensidão.

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Se seria, não sei

Se, eu correria pra te acenar só mais um vez. Você me olharia tão pequena, distante, e nunca mais tão próxima que pensaria em quebrar o vidro. Mas seria arriscado demais, quem sabe eu não estivesse mais lá. Doloroso demais, quem sabe a eternidade não fosse mesmo para nós. Romântico demais, quem sabe só sei amar em palavras. E nós não fazemos parte desse mundo. Nos casamos na realidade do fim. Lembro que amar é abrir mão, não das coisas que se ama, pra fazer feliz a quem se tem, mas sim pra deixar voar liberto a quem se ama. O amor independe de presença carnal. Até onde se pode explicar, o amor não se pode tocar. Até onde eu posso esperar, te vejo.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

É uma Viagem

Viajar! Perder países! Ser outro constantemente, Por a alma não ter raízes De viver de ver somente! Não pertencer nem a mim! Ir em frente, ir a seguir A ausência de ter um fim, E a ânsia de o conseguir! Viajar assim é viagem. Mas faço-o sem ter de meu Mais que o sonho da passagem. O resto é só terra e céu. Fernando Pessoa, 20-9-1933

terça-feira, 1 de maio de 2012

Riminhas da Saudade Já

Me preocupo com esse tempo que vai passar
E se um dia apenas, até lá, irá nos bastar
Me canso de sonhar, lembro do concreto
Olho nossas fotos, me apego ao objeto
Não me conte o tarô, o ascendente
és meu descendente
Da lua, do sol, daquelas estrelas
Somos fogo, juntos, sagitário

Oceano

Fazia do mar meu cobertor, meu travesseiro era a areia. Como sinto falta do som acolhedor das ondas, movendo-se como um berço imenso que compartilhamos todos.

domingo, 29 de abril de 2012

Não Demora

Liberdade é entender que as horas são demasiadamente finitas. O passado, uma eterna prisão. O futuro, incompreensível Deus. Liberdade é viver como se a única lei fosse o agora.

Como é saudade em inglês

Fecho os olhos, e estou presa a um só lugar Esqueço-te, adormeço, e sonho Que coisa mais insuportável é o sonho Inefavelmente inexplicável, coitado de Freud Estou farta de sonhar, do descontrole Que doce seriam as horas reais Da tradução de uma vida, de duas, de Sartre De meus poros deixarem de implorar Pela ponta dos teus dedos, e gozarem-te A inundar-me do que não está em minhas mãos Ai ai... alimento-me de sonhos Talvez eu nem te queira aqui Te troco como se fosse fácil, divirto Faço algum ruído com o pandeiro triste Difícil ser original, tudo que vem é saudade E não importa a língua, ninguém nega Sou brasileira, a saudade come minhas horas

sábado, 28 de abril de 2012

As lágrimas são da chuva

Meu piano anda tão calado Que passo o dia escutando a chuva O corpo sorri a cada gota d´água Sinto, já que é pra me molhar Nenhum pássaro verde pra me contar Pr´onde vão dar os passos que ensaio Sossego em vão. Só o que voltará Me traz e talvez um dia me leve daqui À algo que eu pensei ser efêmero Prum lugar que não se desperdice música Pela tempestade que só cai lá fora Então dentro um arco-íris, agora saudoso

quinta-feira, 26 de abril de 2012

- Ai, vou deletar meu face. - Ixi, o que que é isso? Crise existencial agora? Não acredito que até eu caí nessa de relacionar o mundo virtual com o verdadeiro "status" da pessoa. Que medo! Agora eu que tô em crise. Tchau, internet.

sábado, 14 de abril de 2012

I´ll

Eu olharia por cada riso teu, e riria cada instante só nosso, não fosse o amanhã nos trazer dois caminhos pra separar o que nos caberia tornar inseparáveis. Vida de tempos indecisos, curvados, em formas aspirais. Te respiro agora, te gozo de alegria, de pranto, de medo e principalmente e oniricamente de prazer. Não penso no futuro, mas antecipo a chegada da dor, te como e te canso e procuro palavras pra te descrever e não esquecer de você. Já te lembro cuidando das formigas, e como o homem que me liberta dos pudores quaisquer que me restavam. A aspiral retorna tudo o que é saudoso em mim.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Rio

Posso esperar nosso tempo voltar, pelo jeito não terei outro caminho. Como ainda não tive escolha de não me encontrar no meio de duas correntes, de dois séculos nos quais não vivi. Ou, ao menos, não com esse corpo. Sou duas. Palavras novas, velhas, se misturam pra te explicar num vocabulário que não me pertence. Eu quero a sua língua. Grandes olhos me comem nessa paisagem inacreditável. Juro, eu esperava bem menos, não pelos dizeres. Imagino agora o que vai ser voltar a ser bem só. Mergulho meus pensamentos nos próximos mares que veremos, pra não inundar teus abraços de minhas lágrimas desesperançosas e árduas de quem acha o que procura, mas não pode possuí-lo. Quero mais coragem. O passado me ensinou a gostar de desafios, mas eu não quero ter que fechar os olhos pra te ver. Cabeça navegante, eu peço a cidade, o pecado do gosto que tem de se querer sempre mais. Trocaria o pretendido, pelo mais incerto, até a cor do meu futuro automóvel, mas a coragem me falta. Eu posaria nua todo dia.

terça-feira, 6 de março de 2012

Tanta Estrada, Tanta Estrela

Ela nunca pensou que fosse querer tanto um livro que já tinha em uma língua que não é a sua própria língua materna. A esperança segurava o choro, procurava soluções, nunca as encontrava. Esperava, esperava. Os soluços talvez chegassem só no fim, mas que fim mais indeterminado, impossível, impossível, possível. Sabia que se o livro fosse comprado e lido com atenção, junto aos risos e carinhos que imaginava, e sentia falta a todo instante, tudo sairia como ela sempre quis, ou mais importante ainda, como eles sempre quiseram. Pensava cinza, ouvia Thom Yorke, olhava a foto dele na parede. Tentava focar no teatro. Inesquecíveis cabelos negros limpos. Inefáveis suspiros. Sabia que aquilo era uma coisa boa, pois há quanto tempo não se deixava entregar, e ele lhe dissera algo parecido com isso. Então não esquecia, retornava, retomava, sufocava, porque queria a sobrevivência. Há quanto tempo só se empenhava na morte? Os olhos sorriam. Ela quis perder o avião.

"Se nada nos salva da morte, que ao menos o amor nos salve da vida." P. Neruda

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Agora é só saudade.

Desejei tanto a volta. Quando ela finalmente se aproximou, eu não pude evitar querer o contrário muito mais intensamente.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Nada Feito

Nada feito. Não se aprende a programar. Já se nasce com certo nível de dom, ou não. Ela perdeu um, dois ou mais onibus. Gravou outro nome na parede, que não era o meu. E eu perguntei, louco, escondendo em meus lábios mansos o desespero. Disse que era história inventada, e como ainda não havia escrito o segundo nome que já era previsto para estar junto daquele, resolveu que não escreveria o seu. Escreveu dois nomes quaisquer, como João e Maria ali gravado para sempre. Só pra que quem lesse, romantizesse o que nunca foi romântico. Aquilo passou com a intensidade dos nossos risos cotidianos, mas voltou a me atormentar quando ela começou a reclamar todo o tempo dos meus piores ou até dos mais fracos defeitos.

Eu comecei a inventar também, alucinações. Botava as mãos, os pés e o coração no fogo. Eu caminhava sob um mar de lembranças que eu desacreditava totalmente. Jurava que eram histórias. Algumas eu cheguei a contar pra ela. No começo ria, baixava os olhos. Depois me maltratava aos berros, e eu não entendia o propósito. Então um dia cansou, chorava e dizia que eu havia ficado louco, que deveria me deixar, mas não podia.

Não podia porque motivo? Se sentia culpada? Eu a maltratava com aquelas lembranças. Caía aos prantos e reafirmava "são só alucinações da sua cabeça." Transavamos com fervor, nunca mais com carinho. As risadas, viraram sorrisos amarelos pra momentos inevitáveis, como o de ver ela vindo em minha direção. Um dia a convenci de darmos vida àqueles personagens da parede, escrevemos um conto. Ela gostava de inventar histórias, e eu a fiz parar. Não me sentia culpado porque ela poderia ter evitado, poderia não ter me aceitado assim.

Um belo dia, ai! que ironia, sedi às minhas vontades, o impulso. Virei-lhe um tapa na cara enquanto cantarolava. Morreu de susto. Gritava em pleno estado de surto, desacreditada, vermelha. Me batia no peito com o punho fechado, feito um tambor. Eu me deliciava com suas palavras. Ela não acreditava! Ela estava tendo alucinações, eu deveria a deixar. Mas depois ficou mansa. Disse que éramos iguais e gozou de amores por si própria. Eu gozei pelo mesmo motivo de sempre.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

" Sem o amargo, o doce não é tão doce."

"Cada minuto que passa, temos a oportunidade de começar de novo." Vanilla Sky