sábado, 18 de agosto de 2012

Noite

As estrelas começaram a sentir falta de serem espiadas, enquanto uma nuvem tentava dominar o infinito. Mas a formosa lua ainda nos confortava. Ameaçava cair sobre as nossas cabeças, pendendo no céu, cansada. Não importava, nós não nos poupavamos de adimirá-la quase toda noite. Às vezes a hora de voltar parecia prolongada, e quando vinha iluminava poucos. As luzes das casas demoravam a apagar, mas ali por volta da meia-noite, era como se um vento forte viesse correndo pelas escadas de Coimbra, e a inundasse de escuridão. A cidade abrigava à todos. Ali pelas ruas só restava quem queria estar. Nossos olhos brilhavam. Era tempo de sentir o mundo, e o Vinho do Porto que compramos em Douro duas semanas atrás. O silêncio era gostoso como entrada.
- Essa tentativa de uma perfeição linguística deles me irrita, sabe? Pra mim a língua reflete na personalidade da pessoa, e a personalidade da pessoa se reflete na língua, mas eles quase conseguem montar as mesmas frases perfeitas.
- Parece que estão lendo todos o mesmo livro, e chegaram a decorar palavra por palavra. Uma coisa meio robótica, sem sal, e sem açucar.
- Ou uma coisa, ou outra: a gramática, ou algum parnasiano insuportável.
- Eles tão é imitando as dores de cabeça do João Cabral!
- Hahaha... Sinto falta de Vinicius.
Um moço de boina xadrex, calça e camisa social desabotoada até perto do umbigo, provavelmente estudante de direito, vinha em nossa direção, mas parou antes que chegasse até nós. Estendeu um pano colorido no chão, e sentou-se acompanhado de um violão calado, e uns quantos cigarros soltos.
- Minha salvação!
- O que? Vai pedir o violão emprestado pro cara?
- Não. Uns cigarros. Mas vou esperar um pouco.
Depois de alguns minutos com os olhos de quem pede fixos nos meus, saiu se arrastando. Tomei um gole, outro... encostei minha cabeça na mochila, pensei que queria ir pra lua um dia. Foi aí que percebi que estava bêbada, me virei procurando por ele. Olhei a lua de novo, nos imaginei flutuando lá, mas as cordas que agora vibravam, me dividiram a atenção. "and all I have to do is think of her..." Doavamos o silêncio aos outros, e à noite, era o vento quem guiava.

Nenhum comentário:

Postar um comentário