segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Quero sentar no banco de praça fincado no chão em frente a sua casa. Quando viro a esquina o tenho como objetivo. Sento, sinto a fumaça quente do meu marlboro de filtro vermelho. Tento lembrar o número do seu apartamento mas meu pensamento caminha junto com as pernas de bandos de paranaenses trabalhadores que passam por mim. Aquela não costumava ser uma rua movimentada quando fazia parte de um mundo nosso, ou ao menos não tenho essa lembrança.

Enquanto caço uma caneta em minha bolsa, fixo os olhos no passado de quando eu não podia entrar nos bares. Me deparo com meu corpo gordinho, num estilo largado e cabelo chanel. O seu alto e fino mas também largado, com o cabelo falhado. Brigavamos por uma colher de sorvete, carinhosamente. O que me choca não é apenas o meu relaxo total mas meus olhos brilhando uma inocência tão distante do que hoje é só real e seco.

O que é que eu poderia dizer? Vou casar mês que vem e sabia que se não fosse agora não poderíamos nos encontrar nunca mais? Eu estou morrendo de medo de encontrar um vazio mais extenso ainda ou de você estar careca, ou seja de qualquer maneira eu estou com medo de encontrar um vazio maior ainda. Dou uma risadinha estúpida com medo de algum estranho ver, só não pude evitá-la inteira.

Dou passos em direção contrária ao seu apartamento. Pego meu carro alugado, amanhã terei que devolvê-lo. Preciso de algo que me relaxe. Ligo o som, canto, acendo um. Você deve ser super careta agora mas eu juro que só faço isso de vez em nunca. O pior abraço que poderia me dar, acho que será esse o de quando nos encontrarmos. Não espero muita coisa, sabe? Só não sei viver sem despedidas. Eu poderia ser mais Alice Ayres ou Jane Jones. Já me despedi tantas vezes de você.

Meu celular toca. É a costureira do meu vestido branco. Está pronto.