terça-feira, 15 de maio de 2012

Chirrimoya

Te traria uma ou mais boas memórias e fotografias, mas te trago incertezas. Sei que não é isso que se espera de uma mulher, mas não sei ser um porto seguro. Posso ser um porto. Posso ser uma andorinha. Não posso ser um porto. Posso ser um desses barcos aqui à frente, uma palavra em espanhol, sutil. Posso esconder entre essas faces desertas, a minha, saudosa. Se me machucam as pernas, os cerros, são para que o tempo me passe pelas veias e sinta cada instante passar se aproximando cada vez mais de ti. Eu quero ser uma andorinha. Posso voar hasta mañana, ser poeta, beber vinho. Quero repousar no meu carinhoso país, minha bandeira. Doar ao mar todo o corpo, me sentir só. Quero a liberdade. Acostumo as cicatrizes, mato a sede, penteio os cabelos, sinto falta de alguns colos. Ah, meus colos amados... Quem dera os pudesse levar à todos os lugares. Vou e volto. Gosto de sair, gosto de ficar, gosto de voltar, gosto de ficar. Sou uma andorinha só, com pés frios, mãos quentes e coração partido. Partindo sempre. Não sei viver por ontem nem por amanhã, e aqui não favorece em nada o agora. Quero carinho, Pablo, Vinícius, Clarice... Gosto do gosto de minhas lágrimas, de meus sorrisos, de meus gritos e dúvidas. Nunca procurei pela razão. Ter certeza não glorifica nada. Quando penso que encontrei o certo, me incolho, tenho medo. Necessito o que é humano demais, o que não se explica, o que Freud cansou de indagar. Peco, porque sou humana e não acredito em pecado, apesar de às vezes me tornar um. Adoro rir com o corpo todo. Eu casaria quantas vezes acreditasse. Não quero saber muito da poesia, quero vivê-la. Ainda bem que tem Chirrimoya, e os Andes do avião. (Valparaíso, Chile, carnaval 2012)

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