sexta-feira, 18 de junho de 2010

Saramágico



Não sei para que serviria deixar claro o tamanho de meu aborrecimento a respeito de sua morte. Então o que mais eu poderia fazer senão agradecer os 16 romances impecáveis que nos deixou, além de outras tantas peças teatrais, contos e poesias? Pois, esquecido jamais poderá ser. Afinal, é Saramago. Lá se vai mais um amor.


Eu luminoso não sou
Eu luminoso não sou. Nem sei que haja
Um poço mais remoto, e habitado
De cegas criaturas, de histórias e assombros.
Se, no fundo poço, que é o mundo
Secreto e intratável das águas interiores,
Uma roda de céu ondulando se alarga,
Digamos que é o mar: como o rápido canto
Ou apenas o eco, desenha no vazio irrespirável
O movimento de asas. O musgo é um silêncio,
E as cobras-d'água dobram rugas no céu,
Enquanto, devagar, as aves se recolhem.




Espaço curvo e finito
Oculta consciência de não ser,
Ou de ser num estar que me transcende,
Numa rede de presenças e ausências,
Numa fuga para o ponto de partida:
Um perto que é tão longe, um longe aqui.
Uma ânsia de estar e de temer
A semente que de ser se surpreende,
As pedras que repetem as cadências
Da onda sempre nova e repetida
Que neste espaço curvo vem de ti.

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