quinta-feira, 25 de março de 2010

T.

As besteira de Tânia eram bem mais amáveis. Além do que, ter respeito aos próprios ouvidos é sim, sempre apaixonante.

Ela me deu um tapa de cabelo na pista de dança, eu sorri tímida. Senti o sangue do arranhão na batata da perna escorrer e quando virei o vi desesperado pra que toda a multidão desaparecesse antes que o sangue secasse. E todo aquele movimento era feito como um teatro. Por ela, por ele e principalmente por mim. Nós dois em nossa casa, passavamos horas tentando chegar a um porquê nunca conseguiamos no meio do ato perguntar aquela mulher que tanto nos compreendia, o seu simples nome. A nomeamos Tânia. Ela sumiu depois de tantos encontros inesperados e de tanta ligação entre nós. Nunca mais pudemos nem lhe perguntar sequer a cor do seu esmalte. Criamos aquela mulher, a qual só havia nos doado a imagem. Tinha os ombros estreitos, cabelos negros completamente repicados e olhos que apareciam em qualquer foto extremamente vermelhos. Não tinhamos a cor dos olhos de Tânia, nossa coelha. Tanto era coelha que sabia fugir de nós com tanta leveza e medo, desaparecia na troca da música. A primeira vez que a vimos foi em um desses bares com música ao vivo e ali pra sempre foi nosso local de encontro as quintas. O resto da semana a encontravamos em casa. Nos corredores, subindo pelas paredes, plantando flores, lambendo açucar até enjoar e trocar pelo sal, cantando sempre. Repetia por semanas a mesma música, e de repente cantava umas três e escolhia entre essas qual seria a escolhida pras próximas semanas.

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