segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Entrevista do Estadão com o sociólogo Michael Löwy

A sociedade brasileira clama por ordem?

Não é a sociedade em seu conjunto que se volta contra os estudantes com esse discurso de ordem e repressão. É a imprensa e os representantes da ordem e do governo. Eu me pergunto se parte da população não simpatiza com esses protestos da USP. Pelo menos foi o caso em outros países onde protestos dos jovens e estudantes se tornaram a expressão de um grande movimento popular. Não estou dizendo que isso vá acontecer já no Brasil, mas não há essa dicotomia entre jovens e estudantes de um lado e o restante da sociedade do outro. Essa separação é do interesse da classe dominante, dos governantes mais reacionários, como tentativa de mobilizar a população contra os estudantes.


Para ler toda a entrevista e esclarecer suas idéias, copie e cole:
http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,o-transbordo-do-copo-de-colera,798151,0.htm

Mais um pouquinho...

O sr. é um estudioso das revoluções dos séculos 19 e 20. Qual foi o papel dos jovens e estudantes nelas?

Depende, porque as revoluções são diferentes entre si. Em geral se pode dizer que a juventude sempre jogou um papel importante em qualquer movimento revolucionário. É uma constante. Movimentos revolucionários são levados por jovens, muitas vezes. Agora, se são estudantes ou não, isso depende da época, do país. Na Revolução Russa os estudantes não tiveram muito espaço. Na Revolução Cubana, sim. O Maio de 1968 em Paris foi um movimento totalmente estudantil. E um dos gatilhos foi a invasão da Sorbonne pela polícia. Na França, ainda hoje, a polícia entra raramente na universidade. Justamente porque se sabe que há o estatuto de autonomia das universidades e intervenções policiais provocam a reação dos estudantes. A polícia simboliza o autoritarismo do Estado contra a juventude, contra os estudantes. Esse choque com a polícia é frequente e, em certas circunstâncias, se transforma na faísca que mencionei antes, a que faz um protesto eclodir. Não podemos subestimar o papel dos estudantes nas revoluções.

Um comentário:

  1. Agora leia a matéria da Veja sobre o assunto (obviamente não é um pedido sério, mas eu li e, mesmo conhecendo a Veja, me decepcionei).
    É sempre assim. Qualquer movimento que incite alguma revolta é declarado anárquico e criminoso. E atos como este, que imploram por democracia, e alertam sobre o espírito ditador não escapam.
    Aqui na UFPel aconteceu algo parecido. Ocupamos a reitoria, foi um escândalo generalizado. Eramos 100, a Universidade conta com 45 mil estudantes, ou seja, não eramos 1%, mas representavamos pessoas que tinham medo de agir, pessoas brasileiras (por definição). Para reintegrar o prédio foram chamados 200 homens da tropa de choque da Brigada Militar, 8 cães, 60 Homens da Polícia Federal, todos bem preparados e armados. Saímos pacificamente, ou alguém morreria, obviamente.
    Nem por isso a luta para. Reitorias no país inteiro estão sendo ocupadas, a mídia só não está contando isso, fazendo seu papel de manter a Ordem. Mas a Educação ganhará sua vez agora, por bem ou por mal.

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