Corpos vestidos com calças, sapatos, jalecos brancos, se aproximam do morto que pouco antes de ir pra another world ficara cego. Exames confirmaram a dúvida entre os corpos vivos vestidos de branco, o morto tinha vermes na cabeça, ou melhor dizendo, no cérebro. Mas porque havera ele cegado? Era a grande causa do exame mais aprofundado, onde aqueles corpos brancos, abriram a cabeça cheia de larvas.
(continua)
terça-feira, 30 de junho de 2009
segunda-feira, 29 de junho de 2009
Grande Novidade
Não sei bem o que poderia ser chamado de enxergar, ver. Parece que somos praticamente cegos, com a felicidade de podermos nos guiar entre as ruas. O resto é tudo moldado falsamente pra que de alguma forma, acreditemos em coisas irreais que os olhos não podem alertar. É isso. Que merda. Mesmo. Triste.
terça-feira, 23 de junho de 2009
God Bless the Child
Se Deus não existisse teria de ser inventado. (Voltaire)
Nada é crível o suficiente, nem o não nem o sim, mas sei que se talvez ele não existir mesmo, "graças a Deus" que foi inventado.
Nada é crível o suficiente, nem o não nem o sim, mas sei que se talvez ele não existir mesmo, "graças a Deus" que foi inventado.
sábado, 20 de junho de 2009
quinta-feira, 18 de junho de 2009
Os Três Mal-Amados
O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato. O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço. O amor comeu meus cartões de visita. O amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome.
O amor comeu minhas roupas, meus lenços, minhas camisas. O amor comeu metros e metros de gravatas. O amor comeu a medida de meus ternos, o número de meus sapatos, o tamanho de meus chapéus. O amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos.
O amor comeu meus remédios, minhas receitas médicas, minhas dietas. Comeu minhas aspirinas, minhas ondas-curtas, meus raios-X. Comeu meus testes mentais, meus exames de urina.
O amor comeu na estante todos os meus livros de poesia. Comeu em meus livros de prosa as citações em verso. Comeu no dicionário as palavras que poderiam se juntar em versos.
Faminto, o amor devorou os utensílios de meu uso: pente, navalha, escovas, tesouras de unhas, canivete. Faminto ainda, o amor devorou o uso de meus utensílios: meus banhos frios, a ópera cantada no banheiro, o aquecedor de água de fogo morto mas que parecia uma usina.
O amor comeu as frutas postas sobre a mesa. Bebeu a água dos copos e das quartinhas. Comeu o pão de propósito escondido. Bebeu as lágrimas dos olhos que, ninguém o sabia, estavam cheios de água.
O amor voltou para comer os papéis onde irrefletidamente eu tornara a escrever meu nome.
O amor roeu minha infância, de dedos sujos de tinta, cabelo caindo nos olhos, botinas nunca engraxadas. O amor roeu o menino esquivo, sempre nos cantos, e que riscava os livros, mordia o lápis, andava na rua chutando pedras. Roeu as conversas, junto à bomba de gasolina do largo, com os primos que tudo sabiam sobre passarinhos, sobre uma mulher, sobre marcas de automóvel.
O amor comeu meu Estado e minha cidade. Drenou a água morta dos mangues, aboliu a maré. Comeu os mangues crespos e de folhas duras, comeu o verde ácido das plantas de cana cobrindo os morros regulares, cortados pelas barreiras vermelhas, pelo trenzinho preto, pelas chaminés. Comeu o cheiro de cana cortada e o cheiro de maresia. Comeu até essas coisas de que eu desesperava por não saber falar delas em verso.
O amor comeu até os dias ainda não anunciados nas folhinhas. Comeu os minutos de adiantamento de meu relógio, os anos que as linhas de minha mão asseguravam. Comeu o futuro grande atleta, o futuro grande poeta. Comeu as futuras viagens em volta da terra, as futuras estantes em volta da sala.
O amor comeu minha paz e minha guerra. Meu dia e minha noite. Meu inverno e meu verão. Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte.
João Cabral de Melo Neto
O amor comeu minhas roupas, meus lenços, minhas camisas. O amor comeu metros e metros de gravatas. O amor comeu a medida de meus ternos, o número de meus sapatos, o tamanho de meus chapéus. O amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos.
O amor comeu meus remédios, minhas receitas médicas, minhas dietas. Comeu minhas aspirinas, minhas ondas-curtas, meus raios-X. Comeu meus testes mentais, meus exames de urina.
O amor comeu na estante todos os meus livros de poesia. Comeu em meus livros de prosa as citações em verso. Comeu no dicionário as palavras que poderiam se juntar em versos.
Faminto, o amor devorou os utensílios de meu uso: pente, navalha, escovas, tesouras de unhas, canivete. Faminto ainda, o amor devorou o uso de meus utensílios: meus banhos frios, a ópera cantada no banheiro, o aquecedor de água de fogo morto mas que parecia uma usina.
O amor comeu as frutas postas sobre a mesa. Bebeu a água dos copos e das quartinhas. Comeu o pão de propósito escondido. Bebeu as lágrimas dos olhos que, ninguém o sabia, estavam cheios de água.
O amor voltou para comer os papéis onde irrefletidamente eu tornara a escrever meu nome.
O amor roeu minha infância, de dedos sujos de tinta, cabelo caindo nos olhos, botinas nunca engraxadas. O amor roeu o menino esquivo, sempre nos cantos, e que riscava os livros, mordia o lápis, andava na rua chutando pedras. Roeu as conversas, junto à bomba de gasolina do largo, com os primos que tudo sabiam sobre passarinhos, sobre uma mulher, sobre marcas de automóvel.
O amor comeu meu Estado e minha cidade. Drenou a água morta dos mangues, aboliu a maré. Comeu os mangues crespos e de folhas duras, comeu o verde ácido das plantas de cana cobrindo os morros regulares, cortados pelas barreiras vermelhas, pelo trenzinho preto, pelas chaminés. Comeu o cheiro de cana cortada e o cheiro de maresia. Comeu até essas coisas de que eu desesperava por não saber falar delas em verso.
O amor comeu até os dias ainda não anunciados nas folhinhas. Comeu os minutos de adiantamento de meu relógio, os anos que as linhas de minha mão asseguravam. Comeu o futuro grande atleta, o futuro grande poeta. Comeu as futuras viagens em volta da terra, as futuras estantes em volta da sala.
O amor comeu minha paz e minha guerra. Meu dia e minha noite. Meu inverno e meu verão. Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte.
João Cabral de Melo Neto
TWO

A certa distância, com olhos de gata, ela encontra a imagem parada de seu namorado. Ele estava ali fixado num livro pocket que ela nem imaginava qual seria, segurando-o aberto com apenas uma mão. A outra segurava o cigarro, que até ela chegar, tragou quatro vezes. Enxergou-o em pé, encostado na parede, de tatuagem nova no pescoço. Teve imensa vontade de correr abraçá-lo, mas decidiu manter o ritmo dos passos anteriores. Enquanto isso, ele não moveu uma só vez a visão em busca de qualquer coisa.Depois de tantos passos pequenos, sentia certo alívio e o coração batendo forte. Apenas ficou ao lado dele, a alguns centímetros, esperando que falasse alguma coisa. Ele esperou terminar o capítulo. Finalmente, sem olhar para ela, começou a caminhar e avisou que iriam molhar os pés no mar aquele dia.- Os pés? Ela disse rindo.- Pois é. O mar é uma delícia quando tá frio. Coisa que a gente não tem muito como aproveitar. Entra logo.- Nunca. Imagine só, tô tremendo aqui fora. respondeu.- Eu te esquento se você vier.
Ela entrou, que dúvida. Ficava desejando uma cama bem ali, quentinha na areia enquanto ele cantava e pulava as ondas com o braço direito pra cima, evitando molhar o cigarro.
- Eu não aguento. Tô ficando roxa. Vou embora.
- Como vai embora?
Depois da ameaça, cumpriu o prometido. A esquentou de carinho, não de calor, que seria impossível dentro d’água. Mas ela esqueceu do frio e amou.
(Que meloso, Jesus Cristíssimo, Madonna)
*Que animais simples que somos.
Ela entrou, que dúvida. Ficava desejando uma cama bem ali, quentinha na areia enquanto ele cantava e pulava as ondas com o braço direito pra cima, evitando molhar o cigarro.
- Eu não aguento. Tô ficando roxa. Vou embora.
- Como vai embora?
Depois da ameaça, cumpriu o prometido. A esquentou de carinho, não de calor, que seria impossível dentro d’água. Mas ela esqueceu do frio e amou.
(Que meloso, Jesus Cristíssimo, Madonna)
*Que animais simples que somos.
quarta-feira, 17 de junho de 2009
Meu Amor
Como ela era especial, eu sou dos poucos que sei o quanto. Não sei se era pro bem ou era pro mal, mas era especial. Ela era aquele tipo de gente que chora, quer se matar e de repente percebe que não dá pra saber se em outro lugar pode ser até pior, ou apenas não ser nada e sorri. Sempre confessei sentir a maior raiva daquilo, de saber não ter orgulho e deixar tudo como inexistente. Passando assim a dor que ela tinha no peito, durante nossas brigas, mas a minha não. Desse jeito, quantas vezes ela sorriu e a fiz cair em pranto novamente? Ela era linda mas sabia esconder sua beleza, até de mim quando estava chateada com qualquer besteira e aí ela ficava feia e era só porque ela queria ficar daquele jeito. Alguém no mundo quer ser feio? Bom, ela queria. Quando começou a fumar, comprava cigarros de filtro vermelho e ao contrário de quem está querendo parar ou o resto dos fumantes, foi diminuindo o nível de nicotina dos cigarros, mudou pro azul, depois pro light e nunca parou. Era tão minha, só não me deixava acreditar. Ela tinha uma capacidade estranha de odiar e amar mais do que o normal. As pessoas que eram odiadas morriam de uma forma assustadoramente rápida, dava impressão que ela os matava mas não era capaz de matar uma barata aquela criatura pequenina que cabia toda em mim. Seus amores, como sei bem, pensavam em morrer mas não morriam pra cuidá-la. Sabiam bem que ela precisava deles como fonte de vida, como motivo. Implorava sempre - Não morre antes de mim? Eu não saberia respirar sem você. Como qualquer ser humano era de uma insatisfação infinita. Só estava satisfeita quando permanecia o tempo que quisesse ao lado das pessoas que amava, o que na verdade nunca aconteceu, porque ela nos queria o tempo todo ou quando ouvia uma música maravilhosa nova ou melhor ainda aprendia a tocá-la. Era de um mau humor inexplicavelmente divertido, inclusive pra ela. Apesar de causar vários problemas. Inútil tentar explicar, não se explica direito alguém em palavras. Explica-se vivendo a pessoa, como eu vivi, como ela viveu a si mesma e viveu tanto os poucos que eram queridos. Ela era uma droga e eu vou viver o resto da vida em abstinência.
terça-feira, 16 de junho de 2009
World
Encolhi o mundo em teus olhos
Dentro deles deitei, levantei e dançei
Com suavidade e leveza
Escolhi meu mundo e o encolhi
Em tua vida, e vivi, ah como eu vivi
Dentro deles deitei, levantei e dançei
Com suavidade e leveza
Escolhi meu mundo e o encolhi
Em tua vida, e vivi, ah como eu vivi
segunda-feira, 8 de junho de 2009
Samba da Benção

É melhor ser alegre que ser triste
Alegria é a melhor coisa que existe
É assim como a luz no coração
Mas pra fazer um samba com beleza
É preciso um bocado de tristeza
É preciso um bocado de tristeza
Senão, não se faz um samba não
Senão é como amar uma mulher só linda
E daí? Uma mulher tem que ter
Qualquer coisa além de beleza
Qualquer coisa de triste
Qualquer coisa que chora
Qualquer coisa que sente saudade
Um molejo de amor machucado
Uma beleza que vem da tristeza
De se saber mulher
Feita apenas para amar
Para sofrer pelo seu amor
E pra ser só perdão
Fazer samba não é contar piada
E quem faz samba assim não é de nada
O bom samba é uma forma de oração
Porque o samba é a tristeza que balança
E a tristeza tem sempre uma esperança
A tristeza tem sempre uma esperança
De um dia não ser mais triste não
Feito essa gente que anda por aí
Brincando com a vida
Cuidado, companheiro!
A vida é pra valer
E não se engane não, tem uma só
Duas mesmo que é bom
Ninguém vai me dizer que tem
Sem provar muito bem provado
Com certidão passada em cartório do céu
E assinado embaixo: Deus
E com firma reconhecida!
A vida não é brincadeira, amigo
A vida é arte do encontro
Embora haja tanto desencontro pela vida
Há sempre uma mulher à sua espera
Com os olhos cheios de carinho
E as mãos cheias de perdão
Ponha um pouco de amor na sua vida
Como no seu samba
Ponha um pouco de amor numa cadência
E vai ver que ninguém no mundo vence
A beleza que tem um samba, não
Porque o samba nasceu lá na Bahia
E se hoje ele é branco na poesia
Se hoje ele é branco na poesia
Ele é negro demais no coração
Baden Powell e Vinícius de Moraes
(Tô com uma falta de inspiração...)
(Tô com uma falta de inspiração...)
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